Uma Solução Suicida e um Powerfull Hammer
Logo após Sérgio Tartari, Marcio Bruno e eu retornarmos do Mali em 1996, onde conquistamos a “Solução Suicida” no Kaga-Tondo, a notícia da primeira ascensão de uma importante parede (e conquista ainda por cima) nessa região subsaariana logo se espalhou pela mídia internacional, com os espanhóis desacreditando pois escalavam há anos por lá apenas no inverno africano e nos avisaram do calor infernal, risco de morte por desidratação, insolação, mamba negra, malária…, os ingleses batendo palmas e rasgando elogios na revista High e os americanos querendo saber mais.
Daí que um dia eu recebo um fax do John Middendorf pedindo informações sobre nossa rota. Para quem não conhece John, ele além de um dos maiores paredonistas americanos dos anos 80 e 90 tendo feito escaladas épicas como um a primeira ascensão da Great Trango Tower com Xaver Bongard “The Grand Voyage” e dezenas de outras em Yosemite, foi o inventor do birdbeak e do portaledge. Sim, o cara inventou o equipamento que revolucionou a escalada em grandes paredes, possibilitando-nos dormir bem na vertical. Naquela época, John havia recém vendido sua empresa chamada A5 para a gigante The North Face. Desde essa fusão, a A5 deixou de fazer ferragens como cliffs, birdbeaks e portaledges e focou em roupas específicas para escalada.
Em meu inglês bem ruim no qual o Silvério Néry deu uma revisada, expliquei detalhes sobre a linha de grau VI 7° VIIsup A4 que risca a parte mais vertical da torre. John ficou impressionado e me perguntou se eu cederia a ele uma imagem para seu compêndio sobre big walls ao redor do mundo. Estranhei, pois, ele havia puxado minha capivara e sabia que dois anos eu estivera em Yosemite tendo feito a ascensão da “Zenyatta Mondata” no El Cap. Mandei alguns slides e após umas semanas, recebi outro fax de John, perguntando quanto eu gostaria de receber para que a TNF usasse uma das imagens do catálogo da marca A5. Fiquei olhando para aquele pedaço de papel durante um tempo meio abobado, imaginando nossa conquista brazuca no catálogo da marca “pica das galáxias”. Respondi a ele que não precisava pagar, ficaríamos muito contentes em ceder a imagem, etecetera e tals.
Passados mais uns meses, com lembranças esporádicas da conversa e esperanças de que a foto fosse impressa, eis que recebo na minha caixa postal o catálogo com uma imagem do Marcio Bruno na contra capa (manoooo!) e um martelo. Martelo? No ano anterior à venda da A5 para a The North Face, John produziu 100 exemplares de um martelo para grandes paredes, pesado de verdade, para colocar um lost arrow com apenas dois golpes, cabo longo, despitonador, cabo de madeira como deve ser um martelo de parede. John os fez pessoalmente, um a um. Artista que é, buscou naquela peça o state of art. Batizou os martelos de “Powerfull Hammer”, numerou todos eles e enviou de presente os martelões para pessoas que ele respeitava ao redor do mundo. Quando recebi aquele martelo, o #57 me sentei na escada da agência dos Correios e passei um tempo lendo e relendo a nota que o acompanhava, parabenizando-nos pela conquista e dizendo que este era o único Powerfull Hammer enviado até então para a América Latina. O martelo está aqui em casa, bem guardado e a única vez que usei-o fora do Brasil foi quando o Marcio Bruno e eu fizemos a segunda repetição da “Plastic Surgery Disaster” no El Capitan, pois naquela época a gente ainda podia levar esse tipo de artefato na bagagem de mão, depois fiquei com medo de perde-lo.
Esse apego aos martelos não era nova, eu tenho mais dois de estimação, mas essa são outras histórias, e as conto outro dia.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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Great memories! Those were fun times. Thanks! Still want to climb there!
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Que bela história! Tem muito prego por aí que não merece uma martelada deste powerfull hammer. kkkk
Ahahaha!