O fim da escalada em São Bento do Sapucaí ?
Não lembro mais quantas vezes já escrevi sobre este assunto, nem quanto outras pessoas com o mínimo de coerência e sensatez já o fizeram e comentaram. Semana após semana, ano após ano, escaladores que frequentam a região da Pedra do Baú e São Bento do Sapucaí afrontam as regras dos proprietários de terras e fecham as porteiras para a comunidade que eles, acham, fazem parte. Montanhas e setores fechados à escalada se espalham por São Bento e sul de Minas Gerais.
A Pedra da Divisa é, após o conjunto Pedra do Baú, o mais frequentado da região. Mais de 60 vias, exemplarmente equipadas por não mais do que uma dezena de pessoas que gastaram tempo e dinheiro para que todos pudessem curtir o lugar e evoluir em segurança, deveriam ser um motivo de orgulho para a comunidade que deveria tratar o lugar com carinho, mas escaladores egoístas, insistem em afrontar o proprietário na regra que este é mais enfático: NÃO FUMAR. E outros, preferem fingir que nada veem.
Após um episódio de um escalador local que violou tal regra e foi exposto, recebendo uma enxurrada de xingamentos e pedidos para que se tratasse, mais de uma vez tive de repreender outros que acenderam cigarros na área da montanha. Uma das vezes, no setor dos Tetos, um rapaz ainda tentou se justificar dizendo “não é cigarro, é paieiro”. Ow! não pode paieiro, cigarro, cachimbo, charuto e nem maconha. Não pode acender nada. Não pode acender fogo algum. O que é necessário para pessoas adultas entenderem que do mesmo modo que não acendem seu paieiro num restaurante de São Paulo – e se quiserem acender terão que sair da área – terão que escolher entre seu hábito tabagista e entrar na Divisa?
Estive no setor dos Tetos ontem pela manhã. Hoje estive lá novamente. O grupo que esteve escalando ontem a tarde deixou esse lixo para trás: restos de palha e fósforos. A proprietária Maria Elza ficou de conversar com o Dimas para identificarmos quem não consegue conviver nas regras.
Em 2008, escaladores que “apagaram” um cigarro num mourão podre que formou brasa e se espalhou no pasto da montanha, quase causaram uma catástrofe, e se não fosse o Dimas, que viu a fumaça e correu para apagar o fogo, a montanha inteira e alguns alqueires de lavoura teriam ardido em chamas. O Dimas, nesta ocasião, ficou na porteira de saída esperando todos saírem e inquiriu à todos, mas é lógico que o culpado não foi corajoso o bastante para assumir o ato.
Conversa, placas e xingamentos não tem adiantado. Há duas placas nas porteiras pedindo para não fumar. Falta conscientização. Falta grupo. Quem acendeu o paieiro ontem a tarde estava num grupo, pois segundo a Maria Elza, haviam cinco carros estacionados. Quem estava no setor e viu o fumante e não falou nada, está de acordo e é conivente – tão culpado se perdermos o point de escalada quanto quem acendeu o fósforo.
MELHOR FECHAR, DO QUE PERDER DEFINITIVAMENTE
Este assunto não é novo. É velho, desde 2008 que problemas com cigarro acontecem no lugar. Mas este ano, o perigo de fogo está muito mais alto, pois as chuvas estão escassas e a vegetação, seca. E os fumantes continuam não querendo entender a gravidade do problema.
Minha sugestão é que a FEMESP intervenha, como em anos anteriores, quando na época de chuvas a montanha foi interditada para manutenção nas trilhas por conta da erosão, promova junto com o Dimas, um fechamento de 4 meses até a estiagem passar e o risco de fogo amenizar. Assim, já que os escaladores não respeitam as regras e nem são solidários com o proprietário, que pelo menos, um mal maior seja evitado.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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