Piraí do Sul e sobre como a escalada brasileira cresce

Piraí do Sul e sobre como a escalada brasileira cresce

Semana passada estive em Piraí do Sul com a Tatiana Batalha que estava de férias e me chamou para 5 dias de escalada tradicional e esportiva nesse município paranaense.

Quando das gravações da websérie Profissão Montanhista, Ana e eu escalamos com Edemilson Padilha por três dias no setor Corpo Seco e Torre dos Ventos (link do croqui). Todas as vias eram nota 10 e deu muita vontade de retornar.

Tati Batalha na impressionante rocha do setor Corpo Seco
Via Docinho de coco, no setor Torre dos Ventos

Nesta viagem Tati e eu começamos no Corpo Seco e mesmo com chuva intermitente, encontramos vias secas, protegidas por tetos e conseguimos escalar 5 vias nesse dia.

Amigos e Araucária

Desta vez havia mais dois setores na área para conhecer: o Amigos e o Araucária, (link do croqui) ambos com mais de 50 vias fixas, mistas ou totalmente em móvel e com graus variando entre 4º e 11º.

O setor Amigos é bastante democrático, proteção boa seja em móvel ou fixa com proteções inox da Bonier, empresa paranaense que apoia os conquistadores doando chapeletas Pingo. Ficamos um dia no setor e escalamos 6 vias em um arenito de excelente qualidade. Era sábado e o setor estava lotado. Muitos escaladores de diversos lugares se divertindo nas vias novas. A proprietária está montando um camping muito bem estruturado com cozinha, banheiros e wifi.

Andressa na Toró de Palpites (esq) e Tatiana Batalha na Fabulosa
Tati e Andressa no setor Amigos.
Muitas vias estão identificadas, o que ajuda bastante.

Na primeira vez que Ana e eu estivemos em Piraí do Sul, foi em 2019 vindos do Encontro de Escalada de Londrina, a infraestrutura para receber o escalador era bem simples. Havia os hotéis da cidade e apenas os setores Corpo Seco e a Torre dos Ventos. Nesses 5 anos (com uma pandemia no meio) a área teve um desenvolvimento quantitativo impressionante: dois novos setores foram desenvolvidos, muitas dezenas de vias foram abertas e a parceria com proprietários se consolidou. Exemplo é o camping da Chácara Invernada na qual está localizado o setor Amigos. A proprietária está investindo em infraestrutura para atender o público da escalada. Ficamos na pousada Campina da Casa que também estava recebendo mais de uma dezena de escaladores. A proprietária Édina é uma pessoa bastante envolvida com o que acontece no município, e incentiva os proprietários de falésias a abrirem as porteiras para a escalada. Casos como esse demonstram a força que a escalada tem nas comunidades quer a acolhem.

Setor amigos visto do camping da Chácara Invenada.

No setor Araucária não tivemos sorte com o sol que estava muito forte pela manhã e após escalarmos a clássica No Fundo da Grota indicada pelo amigo Orlei Jr., voltamos para o Amigos que já estava na sombra.

A região de arenitos na qual se encontra Piraí do Sul despontou há alguns anos como uma das maiores promessas de desenvolvimento de escalada de primeira qualidade no sul do Brasil. Esse desenvolvimento passa pelo nome de uma trinca formada por Edemilson Padilha, Valdesir Machado e Willian Lacerda que contribuem de maneira sistemática há mais de duas décadas para a abertura tanto de setores nessa área a qual são nativos, quanto na conquista de grandes paredes em lugares como o Espírito Santo. Obviamente que mais nomes são responsáveis pela revolução paranaense, que no final dos anos 90 parecia se estagnado e restrita ao Marumbi e Anhangava. Assim como o trio paranaense, muitas pessoas se esforçam para impulsionar a escalada brasileira abrindo novas vias, depositando esforço e dinheiro para que setores se tornem realidade e sejam motivação para que praticantes novatos ou veteranos possam se divertir. Deixo aqui meu agradecimento a pessoas que por todo o Brasil, de maneira constante ou não, ao longo de anos ou por um curto período fazem esse trabalho importante de conquista e equipamento de vias e mantém a motivação da comunidade em alta.

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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