Pão de Açúcar – Escalada x Tirolesa ?
Na última semana, fui procurado por cinco pessoas para que fizesse coro num abaixo assinado contra a instalação de uma tirolesa no Pão de Açúcar.
Como não estava por dentro da proposta e sem saber o que o “outro lado”, nesse caso a Cia Caminho Aéreo do Pão de Açúcar, teria como justificativa para construção de tal tirolesa, antes de tomar partido, resolvi me informar mais a respeito.
Junto ao pedido de repúdio à tirolesa no Pão de Açúcar, me foram enviadas algumas imagens do canteiro de obras. A imagem é feia como qualquer imagem de reforma na minha ou na sua casa, na construção de um prédio ou do asfaltamento da sua rua. Tudo tem que ser limpo no final da obra e certamente será. Canteiro de obra é sempre caos. Achei tendencioso.
O projeto da Tirolesa faz parte de uma obra de ampliação da estrutura de visitação no topo do Pão de Açúcar. É uma obra grande para o lugar, mas foi aprovada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN, Prefeitura do Rio de Janeiro e Pelo MONA Pão de Açúcar, que são os órgãos que realmente decidem se pode ou não acontecer qualquer alteração na estrutura atual.
A Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ) é nossa representante perante esses órgãos, e tem tido muito sucesso na luta por assegurar nosso direito de escalar, tanto quanto na de proteger as áreas de montanha. Fato é que nem a FEMERJ nem a CBME e nenhum de nós é dono dessas áreas naturais. Precisamos manter um bom relacionamento para que possamos escalar nas cerca de 250 vias que hoje fazem parte do complexo do Morro da Urca.
Nesse caso, a FEMERJ se pronunciou junto a Cia Caminho Aéreo do Pão de Açúcar em um documento intitulado “CONTRIBUIÇÃO PARA O PROJETO DE TIROLESA DO PÃO DE AÇÚCAR” manifestando a preocupação com o ambiente de montanha e a prática da escalada:
“a FEMERJ tem especial atenção aos projetos realizados em áreas de montanhismo e/ou impactem na integridade do ambiente de montanha. A preocupação é que esses projetos tenham uma concepção que conflita com os Princípios e Valores do Montanhismo Brasileiro (documento CBME), as boas práticas e diretrizes de mínimo impacto.”
Porém, conforme dito acima e deveria ser consenso na comunidade, não somos donos da montanha. Como em outros lugares do Brasil onde existem Unidades de Conservação e nossas entidades fazem parte dos Conselhos Consultivos (consultivo, preste atenção ao nome), podemos garantir que nossos pontos de vista sejam ouvidos, mas jamais exigir que nossa vontade prevaleça.
Qualquer questionamento ou pedido deve ser feito com equilíbrio. Forçar a barra, fazer barulho nas redes sociais em causas em que há outros players com necessidades de igual relevância ou melhores justificativas, é desgastar uma relação que tem sido boa até o momento.
Exemplos onde parte da nossa comunidade perde a razão ao fazer “abaixo assinados” e “manifestos” colocando apenas uma versão dos fatos, tem sido cada vez mais comuns no ambiente das redes sociais. E a cultura do cancelamento, onde muita gente vai assinando sem ler ou pensar, no mais puro estilo manada, apontando o dedo no nariz de alguém e acusando antes de ouvir a outra parte, parece que chegou para ficar.
Tenho visto também com relativa frequência, como pautas (leia-se palavras na moda) de inclusão, tolerância, solidariedade, compartilhamento, igualdade de direitos e maior participação… são rapidamente esquecidas quando nos vemos forçados a dividir espaços com outras modalidades onde antes só nós, montanhistas, tínhamos acesso.
De pouco vale a pessoa combater o racismo se ela é homofóbica ou misógina. Ou ela tolera conviver com o diferente ou não. Não dá pra ser só meio-escroto.
Essa cultura excludente pôde ser notada em vários momentos, onde o “nobre esporte das montanhas” (adoro esse termo, nos qualifica como nobres também, ahahaha) se opôs ao B.A.S.E. jump, a slackline, a tirolesa e ao “famigerado” rapel. Justificativas para afastar essas pessoas das montanhas: poluem o lugar, fazem barulho, colocam grampos desnecessários, podem morrer!… Podem ser facilmente direcionados a nós, como justificativa para banir a escalada de diversos points.
Houve um momento, em que trabalhávamos para o montanhismo crescer, ser divulgado, abrir o mercado. Ele cresceu. Cresceu a ponto de dividir-se em várias modalidades, tão diversas que parecem não terem nascidos da mesma modalidade mãe. E sim, é bom que as pessoas frequentem a montanha. Se lhes falta educação ou elegância, o assunto é outro. Mas a priori, todos deveriam ser bem vindos: os voadores, os slackliners, os rapeleiros e quem curte as vias ferratas.
A nova cultura da indignação e o ricochete de ações mal elaboradas
Esse não é um ponto de vista pessoal e pontual ao caso Pão de Açúcar. Situações nas quais os escaladores entram em atrito desnecessário com proprietários de terras, gestores de UC’s e outros escaladores, aconteceram recentemente no caso da via ferrata no Itabira, da Identificação de Vias de Escalada e a mais recente a qual de tão “tiro no pé” nem me pronunciei publicamente na ocasião, que foi a suposta instalação de um Corrimão no Bauzinho em São Bento do Sapucaí.
Neste episódio que aconteceu no final do ano passado, a Fundação Florestal aprovou verba para uma intervenção de segurança na trilha de acesso ao Bauzinho. Algumas pessoas entraram numa catarse coletiva, espalhando o terror instagrâmico de que seria construída uma obra que impossibilitaria vermos o por-do-sol! As justificativas para “barrar” o corrimão? Nidificação de aves na trilha, impacto ambiental da instalação de aparatos de segurança, ausência de relatório de risco, falta de Plano de Manejo para a região do MONA. Pois bem:
– Aves nidificam em paredes onde há vias de escalada, muito mais do que em trilhas frequentadas por dezenas de turistas todos os finais de semana.
– Escaladores instalaram centenas de grampos nas paredes da Pedra do Baú. Chapeletas que brilham de longe. Me parece justo que para garantir uma visitação segura aos turistas – que também são brasileiros, pagam impostos e também são motivo da UC existir e permanecer aberta, alguns grampos sejam tolerados. Isso é inclusão. Na minha opinião, deveria inclusive constar no projeto a acessibilidade de cadeirantes.
– Relatório de risco, se existisse, iria constar os inúmeros acidentes, inclusive fatais, tendo escaladores como protagonistas.
– Plano de Manejo não irá apenas regulamentar um corrimão. Irá regulamentar a escalada e outros assuntos diversos como uso do solo, passando pela obrigatoriedade de fossas sépticas biodigestoras nas casas dos escaladores que moram no entorno.
Me parece bastante provável e inquietante, que tais argumentos usados por escaladores no abaixo assinado para barrar um suposto corrimão, possam ser facilmente usados no futuro para justamente banir a escalada em alguma Unidade de Conservação.
A Fundação Florestal é soberana em assuntos de infra-estrutura no MONA. Ninguém reclamou da estrada em ótimas condições, de serem construídos banheiros, haver vigilância que nos garante não acontecerem mais roubos de carros e até estupros (sim, já aconteceu no Bauzinho) e nem aplaudiram quando liberaram a entrada gratuita aos escaladores. A estrutura que usufruímos gratuitamente é bancada pelos turistas que são tratados com desdém por alguns escaladores.
Por fim e mais importante, é o fato de que a Fundação Florestal aprovou uma verba e fez a licitação para uma “Intervenção de Segurança”. Nada havia sido decidido. A FF sempre teve diálogo para que a comunidade interessada pudesse se pronunciar sobre o que seria aceitável na tal “Intervenção”. Se será feito um corrimão, instalado um cabo de aço, placas ou simplesmente um caminho melhor delineado para que as pessoas leigas possam ter uma maior sensação de segurança sabendo por onde andar… houve espaço para ideias. A conversa teria sido muito mais amigável e produtiva, se antes de meter os dois pés na porta, tivessem tocado a campainha, se apresentado e escutado as necessidades dos gestores de garantir a segurança dos visitantes. Mas talvez a oportunidade de encabeçar um movimento instagrâmico, atacar alguém “poderoso”… infelizmente pareça ser mais atraente para algumas pessoas do que dialogar equilibradamente.
A FF não precisaria nem ouvir os escaladores, uma vez que o conselho consultivo do MONA Pedra do Baú é formado de 12 cadeiras e apenas uma delas é destinada a esportistas. Mas ouviram os escaladores, em uma reunião onde o gestor foi incisivamente cobrado na questão do Plano de Manejo – que não era o objetivo da reunião – e quase desacatado por algumas pessoas exaltadas. Houveram propostas de exigência de calçados apropriados a trilha para acessar os 500m de percurso. Questionei sobre a possibilidade de nalgum momento, um indígena querer subir a trilha descalço e qual seria o protocolo para tal situação. Silêncio.
Ao final de reunião, não houve do grupo alterado, propostas reais para a FF melhorar a segurança dos turistas na trilha.
Minha opinião pessoal? Prefiro que o corrimão ou qualquer outra obra não exista. Mas posso conviver com algo que ofereça o mínimo de segurança para pessoas que também querem ir com a família, idosos e crianças numa trilha a 500m de um estacionamento. Em que isso afeta minha experiência na escalada? Em nada.
Considerações finais
Voltando ao Pão de Açúcar, antes de mais nada aconselho a leitura deste documento do FEMERJ, pois é um texto equilibrado que procura um diálogo, entendendo que existem mais pessoas interessadas em visitar o topo do Pão de Açúcar, cuja estrutura certamente não comporta o atual número de visitantes, maior do que na sua inauguração.
O Pão de Açúcar é uma montanha símbolo do Rio de Janeiro, inserida numa área de floresta urbana. Há no seu entorno, toda a beleza natural do Rio de Janeiro, micos, aves, bromélias e orquídeas e as vias de escalada. Mas ao chegar hoje no seu topo, também há lanchonete, coca-cola, publicidade, banheiro, joalheria H.Stern para você pedir x companheirx de cordada em casamento lá mesmo no cume, e há um bondinho grátis para assegurar sua descida rápida e confortável no caso de uma tempestade. Existe também no morro da Urca um lindo auditório, onde numa Semana Brasileira de Montanhismo, pude ver a apaixonante palestra de Jim Donini.
No meu entender, o Pão de Açúcar é um lugar bastante urbanizado. Há um limite para essa urbanização? Sim, deve haver. Mas o limite tem que existir em leis e não nas nossas cabeças apenas. Se o limite for ultrapassado, mecanismos legais têm que ser acionados. O Ministério Público tem a obrigação de averiguar irregularidades e exigir a punição de crimes. Essa ação é legítima.
Esse texto não é a favor nem contra o que está rolando hoje no Pão de Açúcar. Estou gastando meio período do meu dia com a intenção de dar um alerta para que consigamos segurar a paixão e assim vermos a situação de ângulos que afetam outras pessoas além de nós Relações sadias com pessoas ou entidades, se consolidam pela forma correta e civilizada de discutir ideias conflitantes. Quem participa ou já participou da diretoria das nossas entidades representativas, sabe o quão difícil é construir esse diálogo e obter respeito.
Bater em adulto e não esperar represália de volta me parece muita ingenuidade. Se alguém me atacar, vou me defender e manter um estado de alerta com a pessoa. Esse papo de deixar pra lá e evoluir é coisa de Pokemón.
O que para mim não faz sentido, é de algumas pessoas fazerem questão de em situações como essa, vestirem a camisa de montanhistas para brigar em assuntos que poderiam ser discutidos por toda a população e não apenas por um segmento esportivo. Um movimento intulado “Pão de Açúcar sem tirolesa” é no mínimo mal batizado por quem ainda quer ter acesso à montanha para escalar. Se o que incomoda é a expansão urbanística, a movimentação deveria ser nessa direção e não contra a atividade esportiva (sei lá se tirolesa é esporte) ou laser. Fato é que se não pode tirolesa, não pode escalada. Esse estardalhaço direciona uma mira em nossa atividade. Coloca em risco nossa liberdade de usufruir não de 2 ou 3 vias, mas das 250 vias deste complexo. E causa ranço com entidades que precisaremos conversar mais vezes.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
Qual o estudo de impacto deste empreendimento? Vale o investimento? Qual o número estimado de turistas / visitantes no local. A urca está com um trânsito caótico nos finais de semana. A trilha / pista Claudio Coutinho encontra-se abandonada e com vegetação e lixo. Sem controle na URCA essa atração acarretará problemas para o Bairro. Será preciso ter um controle nessa operação. Vamos torcer para tudo dar certo e sem risco de acidentes.
Prezado Felipe,
Com certeza a empresa interessada já estudou os riscos e consequências do investimento – e se fez a maioria das suas perguntas pelo simples motivo de que se houver acidente ou problema, eles serão os maiores prejudicados. Em relação ao número de visitantes, ele tem como gargalo o próprio Bondinho, uma vez que a tirolesa só será usada para descida e não poderia ser usada como meio de subida. Infelizmente não sei lhe informar se a pista Claudio Coutinho é de responsabilidade da Cia Caminho Aéreo.
Tirolesa é esporte? Nossa, como foder com uma montanha encontra nos discursos vagos e paliativos tantas justificativas…
Prezado, a questão não é ser ou não ser esporte. Para muitos, escalada é turismo e não esporte, o que é uma leitura errada da atividade, mas ela existe em diversos segmentos governamentais como no Ministério do Turismo. A questão é direito do cidadão. E se para nós é permitido usufruir de lugares como o Pão de Açúcar, deve valer a mesma regra para outras pessoas também. A vegetação dos morros da Urca, Babilônia e Pão de Açúcar não foram impactadas pela escalada? só nós temos uma licença poética para impactar ao praticar nossa modalidade esportiva? Ninguém quer foder a montanha Cristiano, só que para proteger, permitir ou negar algo, tudo tem que ser baseado em leis e não em sensações do tipo “chegamos primeiro e agora é tudo nosso”. Nossa comunidade tem que mudar o discurso de ódio contra outras atividades que chegaram para dividir o mesmo espaço, e principalmente olhar para nossa próprio impacto antes de acusar os outros. Acho que você poderia nos esclarecer melhor sobre o que você considera “discursos vagos e paliativos” pois escrevendo apenas uma única linha, fica difícil entender o que você tem a intenção de dizer neste fórum.
Você Eliseu como sempre muito sensato nas palavras. Só se desenhar pra um seleto grupo entender que tem espaço pra todos nas montanhas.
Muito assertivo nas palavras. Muitos escaladores, acho que nem imaginam como se abre uma via como se limpa uma parede como se limpa uma base.. E quando aparece algo diferente para atrair as pessoas para as montanhas da chilique. Chega a ser engraçado .
Excelente texto. Vivemos situações parecidas, repetidamente, aqui no Petar.
O texto é muito bom, mas os comentários são mais esclarecedores ainda. Parto sempre do princípio que pesquisar sobre um assunto é a premissa para se emitir qq opinião, pois com o advento da internet, o que mais tem hoje em dia são “expert de Instagram com o conhecimento mais sólido do que um pudim”.
Perfeita sua colocação Eliseu. Até iria mais longe, não entendo a arrogância e antipatia que tomam conta de vários esportes que utilizam o espaço público como palco, mas isso já é outra estória…
De fato o pessoal que escala, ou melhor, uma fração deste grupo, são os piores. Pensam que só eles tem direito ao que é patrimônio coletivo representado pelas montanhas e que se você não sabe escalar, não tem direito a qualquer coisa além de ver a montanha de baixo. Vão acabar falando sozinhos.
Exatamente sobre essa atitude medonha disfarçada de purismo e pseudo fanatismo ecológico, que se trata os últimos episódios que cito no texto. Parece que aquela aula de dividir os brinquedos foi esquecida no jardim de infância. Se as atividades estão previstas, dentro da lei e foram discutidas com a comunidade da qual os montanhistas são apenas uma parte, se formos voto vencido, temos que aceitar e colaborar para que tudo aconteça da melhor forma possível. Você que faz parte do montanhismo organizado, sabe da dificuldade de criar diálogo com entidades e empresas, e a facilidade com que essas relações podem se deteriorar por conta de ações como as que estamos presenciando.
O inimigo da escalada brasileira sempre foi o próprio escalador!
Eu percebo que as coisas estão mudando, evoluindo, as pessoas estão viajando mais, tendo mais acesso a referências pelo mundo, pena que isso está acontecendo tarde, pois também percebo que os próprios escaladores (me refiro aos conquistadores), estão por hora se extinguindo em um período onde a escalada de boulders ou falésias (que são ambientes mais “sociais”) são as modalidades da vez…
A comunidade de montanhismo precisa saber conviver bem com outras comunidades, ponto. Os montanhistas não tem mais direito que outras pessoas de usufruir as montanhas, ponto. As montanhas não instituíram os montanhistas como seus representantes ou guardiões ou advogados, ponto. Participei ativamente do montanhismo organizado há 2 décadas, e entendo tudo que vc fala no seu texto Eliseu. Pena que de lá pra cá as relações se deterioraram na sociedade, e isso acabou se refletindo também no montanhismo. Obrigado pelo posicionamento esclarecedor e ponderado.
Gustavo, parece ser realmente difícil para algumas pessoas entenderem que a montanha é de todos, mesmo que elas tenham repetido exatamente isso metade de suas vidas. Em tempos onde muitos (alguns por convicção e outros por moda) pregam solidariedade e compartilhamento, é de cair o queixo atitudes violentas como estamos presenciando, como base em achismos e “estamos averiguando”.
Eliseu, sou Diretor do Bondinho e montanhista, ambos iniciados há 16 anos, por caminhos até similares.
Antes de entrar nos seus pontos de forma bem completa, gostaria de reforçar que o projeto da tirolesa passou por todos os trâmites legais de autorização. Foram dois anos no processo, incluindo diversas reuniões com solicitações objetivas de adequação pelos órgãos licenciadores. Além de reuniões, foram feitas visitas técnicas por diversos funcionários competentes na atribuição de suas funções e que agora são abertamente acusados de negligência nas redes sociais.
Enquanto o projeto era avaliado pelos órgãos pertinentes e seus técnicos, a sociedade civil foi ouvida. Como você bem colocou, o montanhismo é apenas uma das comunidades que possui representação. Além dos montanhistas, temos diversos representantes da sociedade civil no MoNa, que já possui uma diversidade inquestionável nesse âmbito. Mas o projeto passou por outro comitê com representantes da sociedade civil, o do IRPH. Esse comitê também possui responsabilidades e atribuições e fez uma sabatina de questionamentos dos mais diversos. Por fim, também não se opuseram ao projeto, fazendo largos elogios e ainda pedindo que fizéssemos uma análise para que estruturas antigas do Morro da Urca e do Pão de Açúcar fossem reavaliadas, considerando importante que o Parque Bondinho mantenha a infraestrutura sempre moderna e adequada aos requisitos atuais.
O Parque Bondinho Pão de Açúcar tem todo o interesse em fazer a parte que lhe cabe para que a sustentabilidade continue sendo uma força de sua marca. Esse trabalho tem sido muito bem feito, posso afirmar com bastante conhecimento de causa. Qualquer alegação contrária a essa realidade, na minha opinião, reflete desinformação acerca dos projetos conduzidos pela empresa.
Sabemos que instalações de teleférico em todo o mundo possuem estreita relação com as mais diversas atividades de montanha. Em qualquer lugar do mundo a utilização do teleférico, independente de sua relevância no âmbito turístico, é cobrada para esportistas de montanha também. Conheço inúmeras instalações no mundo e não conheço nenhum exemplo de utilização do teleférico por montanhistas sem o pagamento do bilhete, com exceção do Parque Bondinho Pão de Açúcar.
Essa relação existe há algum tempo (e vai continuar existindo) graças ao trabalho intensivo e da aproximação da FEEMERJ. E vai continuar existindo enquanto a instituição se mantiver forte e organizada.
Esse benefício é apenas um exemplo, pra mim muito relevante, de frutos importantes dessa relação construtiva. Acesso organizado às vias do Babilônia; apoio e Patrocínio na ATM, a Abertura de Temporada de Montanha; auxílio na reforma de vias de escalada, entre elas o CEPI que hoje está em condições excepcionais boa parte graças ao apoio técnico que Pellegini e eu trouxemos, desenvolvendo a melhor forma de fixar o cabo para garantir o prolongamento da vida útil.
Além dessas ações, atividades relacionadas ao engajamento socioambiental são realizadas pela empresa aos montes, sempre de olho nos objetivos da unidade de conservação. O Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca (MoNa Pão de Açúcar) é de longe a UC que mais atinge os objetivos de Plano de Manejo na gestão municipal do Rio de Janeiro. E isso só é possível graças ao trabalho do Parque Bondinho Pão de Açúcar. A sinergia entre a empresa e a gestão da UC é um modelo. De acordo com a tese de doutorado recentemente publicada pela Sônia Peixoto, importante Gestora Pública de unidades de conservação, essa é a melhor UC municipal do Brasil. Os principais pilares são: atingimento dos objetivos da UC e… comunicação com seu conselho consultivo.
Todas as informações acima já foram expostas em outro foro, apresentado inclusive por mim, mas considerei importante mencioná-las novamente porque, neste contexto de montanhistas x tirolesa, não há condições para que as informações e opiniões a favor da empresa e da tirolesa sejam efetivamente colocadas. De fato, como você mencionou, há uma atividade intensiva para que a opinião de um grupo prevaleça. E duas formas de atuação principais estão sendo utilizadas na intenção de que essa imposição aconteça::
A primeira forma é inibir que apoiadores do projeto possam externar sua opinião livremente. Houveram discussões e duras críticas a pessoas (principalmente montanhistas) que não quiseram fazer parte do abaixo assinado ou até mesmo que preferiram analisar a situação antes de assinar. Outras foram massacradas com palavras duras nas redes sociais ao se posicionarem a favor do projeto. Falo inclusive em nome de pessoas muito próximas de mim.
A segunda forma de atuação é massificar informações entre montanhistas e outros grupos potencialmente apoiadores. Isso inclui a proliferação de fake news ou apelos que muitas vezes não possuem fundamentação técnica, ou questões subjetivas, como qualificação de beleza. Já ouvi até em uma reunião que deveríamos ter demonstrado para os montanhistas os projetos executivos e estruturais (imagine se discutíssemos os projetos estruturais com cada cidadão interessado…).
Bom, com o projeto da tirolesa aprovado e início das obras, houve algumas intercorrências que envolveram os escaladores.
A primeira foi relacionada ao ajuste da chegada do CEPI. Como bem colocado pela FEMERJ em sua carta, foi solicitado o envolvimento do órgão na análise da chegada da via no PA e assim o Parque Bondinho o fez. Repare que as vias da face oeste foram preservadas em sua totalidade! Foi proposta uma alternativa provisória para o acesso às instalações do Parque. E na reunião de 28/02 ficou claro que há uma solução definitiva e adequada, que também preserva as vias em todo seu comprimento.
A segunda foi o vazamento de pó de pedra na face do morro do Pão de Açúcar. Foi uma falha e não deveria ter ocorrido. Foram tomadas as providências de forma absolutamente imediata. A obra passou por diversas fiscalizações (inclusive do Ministério Público) e ficou demonstrado a proatividade na resolução do problema. Um laboratório confirmou que o material era realmente inerte (somente pó de pedra) e em breve esse laudo fará parte de um relatório do MoNa, que será disponibilizado publicamente.
Tenho dificuldades de entender como os montanhistas alegam não saber do projeto da tirolesa. Com todo o trabalho de divulgação realizado, ocorrências, publicações no site do Bondinho e diversas reportagens, definitivamente a transparência não foi um problema. Isso sem mencionar o trabalho técnico realizado por órgãos licenciadores.
A situação ainda trouxe à tona o conceito de revitalização do Pão de Açúcar. Muita desinformação com relação a esse projeto tem ocorrido. Valores absolutos e percentuais de aumento de área que não são reais, comparação com uma imagem de, no mínimo, 8 anos atrás… enfim. A imagem publicada é um levantamento técnico que em nada representa o conceito arquitetônico. É uma volumetria técnica sem cores e vegetação, formatada para servir de início da avaliação pelos órgãos técnicos. A falta de diálogo só irá tornar a participação da comunidade montanhista mais difícil. Os demais representantes da sociedade certamente continuam interessados e abertos ao diálogo.
Continuamos abertos a ouvir e conversar com a comunidade montanhista. Vejo toda essa crise como uma grande oportunidade de nos aproximarmos ainda mais e de forma construtiva. Inclusive ideias simples e sensacionais surgiram de conversas produtivas fora da batalha aberta e serão anunciadas em breve, quando consolidadas.
Espero, como montanhista, que esse projeto seja mais uma oportunidade de iniciação de pessoas no mundo do esporte ao ar livre. Temos oportunidades diversas de divulgação do esporte, da natureza e do turismo. Mas espero ainda que todo esse forte movimento se reverta em uma grande consolidação das entidades que organizam o esporte. Pra que todos os benefícios citados por você no texto possam ocorrer é preciso ter representação forte e o bom montanhista deve cultivar isso.
Olá Diego, sou Arqta e já tivemos a oportunidade de nos encontrar em 2 reuniões desde q esta polêmica começou…
Estamos de lados opostos nesta história mas nem por isso houve de ambos as partes qq excesso e/ou desrespeito, desta forma vou me restringir a alguns fatos e algumas perguntas q continuam sem resposta para mim…
Quanto aos fatos:
1. Eu frequento a urca há dois anos, desde q comecei a escalar e te digo q para mim foi uma enorme surpresa
2. Qdo fui me inteirar do q estava acontecendo, não achei imagens do projeto em nenhum lugar apesar, apesar de localizar diversas materias e até mesmo um post do esc de arquitetura contratado, o q me causou uma certa estranheza
3. Conversando com amigos soube q realmente este projeto já havia sido debatido e q havia recebido o ok de todos porém qdo comecei a frequentar as reuniões pude constatar q isso não refletia a realidade, tanto no CEB como na AMOUR a ampla maioria presente se mostrou contra o projeto pelos mais diversos motivos
4. Na minha pesquisa localizei 4 projetos protocolados: 1 aprovado MODIFICAÇÃO SEM ACRÉSCIMO DE ÁREA E IMPLANTAÇÃO DE TIROLESA e outros 3 q deram entrada em
Dez/22 e jan/23 solicitando autorização para realização de obras MODIFICAÇÃO DE PROJETO APROVADO COM ACRÉSCIMO DE ÁREA
5. Os morros Pão de Açúcar e Urca são institucionalizados patrimônios sob várias esferas administrativas e sob diferentes adjetivações. O bairro da urca é tombado, nem mesmo um posto para os guarda vidas pode ser construído na praia vermelha por conta do tombamento da região.
Poderia colocar aqui outros tantos fatos no mínimo contraditórios mas acho q estes são suficientes para contextualizar as minh perguntas q permanecem sem resposta:
1. Qual o acréscimo de área construída prevista para os 3 morros (babilônia, morro da urca e Pão de Açúcar)?
2. Qual a expectativa de aumento de público com a inauguração da tirolesa? Qual a expectativa de aumento de público com todo o masterplan instalado?
3. Houveram cortes e perfurações na rocha?
4. Segundo reportagens q achei, os planos da companhia é transformar o complexo do Pão de Açúcar em um hub de entretenimento com “uma nova atração por ano” segundo palavras do CEO de vcs, quais serão as próximas novidades?
Continuo minha pesquisa, querendo escutar todos os argumentos (contra ou a favor) para q possa formar a minha opinião enquanto cidadã.
Por essa e outras parei com cursos de escalada. Apesar de ter formado alguns alunos que se tornaram amigos e me orgulhar de alguns escaladores que iniciei, também tem alguns que me arrependo de ter introduzido neste mundo.
E o simples turista, aquele que vai lá curtir, fazer selfie e ir embora não se torna um militante chato que acha que só o que ele faz é o certo. Tá certo que tem que ter regras, mas tem muito escalador CHATO PRA CARALHO e eu já não era muito “sociável”, agora sumi de vez deste mundo.
Eles sim são um bando de Pokemon não evoluído 🙂
Obrigada por compartilhar! Perfeito!
Texto muito bom e sensato!!!
Excelente texto Eliseu.
Parabéns pelo texto Eliseu!!
Excelente reflexão !!
Muito bom o texto. Os ânimos aqui no Rio estão exaltados. Muita gente botando o dedo na cara do outro. O radicalismo é a desinformação está gerando muitos atritos. Uma pena. Parabéns pelos exemplos sucintos acima.
Grande abraço e boas escaladas
Bagre, estamos na torcida para que esse episódio termine de forma justa e sem ressentimentos, pois sem conversa e união, todo o trabalho feito até aqui, desmorona.
Gostaria de parabenizá-lo pelo equilibrio em seu ponto de vista, bem como sua explanação. Por mais que sejamos pioneiros “no uso” da montanha, não somos donos dela e diante de um confronto até mesmo a sensação de sermos donos, pode ser tirada de nós. O Montanhismo cresceu, cresce independente de vontade, e se nos consideramos especiais, que sejamos especiais recebendo as modalidades mais recentes com o mesmo respeito que queremos para nós escaladores.
Texto irretocável.
Diálogo é sempre o melhor caminho. Como seres vivos, fazemos também parte do bioma e até mesmo por uma questão de saúde pública devemos manter a integração. Fiquei sabendo da situação por parte de uma montanhista muito bem informada sobre o projeto. O quê mais me chamou a atenção negativamente foi a falta de consulta prévia da FEMERJ e CBME (segundo esta fonte), somado a aprovação do projeto num local tombado, que em tese não deveria sofrer nenhum tipo de aumento de aérea. Devemos manter o bom relacionamento e respeitar outras demandas, claro, mas a contraparte também deve consultar outros órgãos previamente.
Oi André, acho q cabem alguns esclarecimentos:
1 projeto da multi tirolesa (sim, não é uma são 4 com capacidade de descer 100pessoas por hora) foi aprovado pelo IPHAN, IPRH e Prefeitura do Rio.
A FEMERJ e as associações de moradores foram informadas, pq consulta se pré entende por ser uma conversa de negociações pelas duas partes, o q colocado de forma bastante duvidosa na timeline de apresentação do projeto, a ponto da AMOUR solicitar uma revisão da mesma pois entendem q a empresa divulgar como se eles fossem a favor seria agir de “má fé”, usando as palavras ditas por uma moradora na reunião.
Esclarecidos esses fatos, vieram a tona outros 3 projetos, todos já protocolados solicitando aprovação nas entidades competentes, estes sim sem qq consulta prévia, onde solicitam a modificação do projeto aprovado das tirolesas, agora com acréscimo de área, e pasme. São cerca de 6500m2 distribuídos nos 3 morros q a cia ocupa (babilônia, morro da urca e Pão de Açúcar)
Devo lembrar que o escalador que invade e atravessa a mata, usa magnésio, acessa lugares selvagens e escalam as vias cheias de proteções fixas estão causando mais impacto sobre fauna, flora e mesmo paisagem, do que o turista que sobe de bondinho e desce de tirolesa… Você aceita proibir a escalada na MoNa PdA para preservar o ambiente??
Então Aloysio, é exatamente disso que estamos falando. Como dizia minha avó: “a pessoa senta em cima do rabo feio e fica apontando o rabo do outro” Obrigado por sintetizar o que deveria ser bem fácil de entender
Salve Eliseu!
As suas ponderações são as melhores que li até agora sobre este assunto. Dignas de elogios pela grande sensatez e equilíbrio.
É fato que temos no seio do movimento montanhista dissensões que se projetam para esse tipo de manifestações que assistimos: repudiando obras, bandindo abaixo-assinados em campanhas e usando argumentos falaciosos sem pesar as consequências.
O grande desafio sempre será equilibrar diferentes visões de mundo, sobre os esportes de montanha e sobre os anseios de diferentes parcelas da sociedade – todas com o mesmo direito. E é isso que você exercita magistralmente neste texto e suas reflexões. Obviamente nem todos vão gostar, mas a vida é assim. Parabéns pela franqueza e equilíbrio.
Getulio, o esforço no sentido de evoluirmos nas formas de preservar as montanhas e não retrocedermos no potencial de dialogar deve ser coletivo. Já o direito de proprietários e entidades que são soberanas em determinados assuntos – que podem sim serem conflitantes com nossa visão, esporte ou senso estético, – nem deveriam ser discutidos, pois são garantido em lei ou em alvarás específicos. Obrigado pela contribuição.
Texto maravilhoso, elucidativo. Nós montanhistas não somos uma elite como muitos pensam e a montanha não é só nossa.
Parabéns
Ótimo texto Eliseu!
Muitas pessoas abriram a cabeça com essa leitura. Obrigado
A montanha é para todas as pessoas, não há soberania para essa ou aquela prática. Há lugares e lugares, as intervenções sempre ocorrem na proporção dos interesses em jogo. Respeito, diálogo e tolerância são necessários para discutir fora da bolha as formas e acordos de uso, além disso já existem as leis e instituições direcionadas. Preocupação e atenção aos excessos e prejuízos reais sempre é bom, mas sem protagonismo de profetas do fim do mundo. Que ao final montanhistas, visitantes, empresas e instituições brindem a convivência respeitosa.
Isso aí, estudo, reflexão, diálogo, coletivismo, assim construimos uma democracia sem extremismos cegos.
A tirolesa é apenas a ponta fo iceberg. A cia Bondinho do Pão de Açúcar já está com. Um processo de tramitação de um projeto e “modenização” de equipamentos e para atender o aumento do fluxo turístico com a tirolesa que terá 04 ( quatro novos cabos mais 01 cabo para segurança e um eventual resgate., ou seja mais 05 cabos) O novo projeto prevê um acréscimo de mais 600 metros quadrados de área construída. Ou seja… de puxadinho a puxadinho o cume do Pao de Açúcar vai desaparecer. Um horror. A Femerj não consultou os montanhistas, não fez nenhuma reunião com os clubes par tratar do assunto e as explicações do Diego, gerente do Caminho Aéreo só fez reforçar a postura da grande maioria dos montanhistas inclusive mudando a opinião daqueles que eram a favor da tirolesa. Os moradores da Urca não foram consultados e sofriam com o barulho das obras. Hoje a mesma foi paralisada pela Geo Rio. E ainda por cima o final de vias de escalada ( CEPi Secundo) foram destruídas, sem o consentimento dos conquistadores ou dos clubes responsáveis e desviadas para outras saídas por conta da plataforma da tiroleza. . Esse projeto é um horror e a Femerj com membro interessados comercialmente no projeto foi autoritária e omissa e não dialogou com seus afiliados. Nem os moradores da Urca foram consultados.
Tetê, obrigado pela contribuição. Vamos por partes:
– É direito da Cia. e qualquer outra empresa com fins lucrativos, querer aumentar a receita. Se a forma disso acontecer é errada perante a lei, não poderia obter as licenças para tal junto ao IPHAN, Prefeitura e MONA.
A questão de ser “um horror!” é apenas estética que varia de pessoa pra pessoa e tem zero valor legal, concorda?
– Não sei e nem você explicitou o suficiente sobre o que o sr. Diego falou.
– Sobre “moradores da Urca” acho que eles tem o direito de reclamar do barulho, assim como devem reclamar de qualquer outra obra seja nos prédios vizinhos ou nos prédios militares ao redor. A Prefeitura tem canais para averiguar o nível de ruído permitido dependendo do horário do dia.
– A questão do Direito Autoral é um acordo de cavalheiros que é feito entre escaladores. Essa é uma das regras do esporte, que diz respeito a nós apenas. Exigir que a Prefeitura ou a Cia Caminho Aérea Pão de Açúcar peça permissão de conquistadores para qualquer modificação é fantasia, já que nenhum conquistador tem posse legal do traçado da via. Se o MONA, ou Prefeitura, inclusive achar por bem interditar essas vias, eles não precisam de benção de ninguém, precisarão apenas colocar uma placa na base das vias dizendo “trecho interditado para escalada” baseado em N justificativas bem fáceis de convencer, por exemplo, um juiz, se alguém resolver exigir judicialmente a desinterdição.
– A FEMERJ não tem poder de polícia, nem de barrar obra alguma, pode apenas dialogar, tentar achar alternativas e o confronte deve ser a última opção, mesmo que pessoas do nosso meio considerem ser essa a primeira. Outros assuntos internos, tem que ser resolvidos entre FEMERJ e clubes. Se o projeto está de acordo com a legistação e tem as devidas licenças, nada de errado algum montanhista ter interesse em trabalhar nele, correto?
– Moradores da Urca, infelizmente perante a lei, não precisam ser consultados para um alvará de construção ser expedido. Para isso existe Prefeitura e um Prefeito eleito pelo povo.
De novo: não sou contra nem a favor do projeto, não moro na Urca, não vi o que está sendo feito. Só estou discordando da forma como a reclamação está sendo conduzida.
Se eu que não sou advogado, consigo achar inconsistências na sua argumentação, imagine alguém da área jurídica?
–“Não há justiça quando se perde a percepção de proporção”, disse um filósofo brasileiro. A Tirolesa proposta causa quanto impacto negativo na nossa cidade, comparado ao das favelas, que submetem uma enorme quantidade de pessoas a viverem sob condições ruins ou péssimas e indignas, fora a convivência com gente que acha que violência contra qualquer um é um ato “justificável”?
–Encosta de morro é lugar de vegetação, de animais, não de gente, nós humanos fazemos muito mais estrago lá do que benefício. Quantas pessoas são afetadas pelos males das favelas? Quantas pessoas recebem péssima educação nas favelas, quando não treinadas para o mau? Quantas vezes vi na vida a sociedade, incluídos os montanhistas, “esquecerem” o tamanho do impacto negativo das favelas. A sociedade deveria se preocupar primeiro com as encoostas e com colocar aquelas pessoas para viver num lugar digno.
–Deveríamos todos estarmos lutando para que a Prefeitura e outros acabem com as favelas, de ocupação ilegal, imoral e prejudicial à Natureza da cidade, ou não?
–Deveríamos todos estarmos lutando por boas escolas, o único caminho reto para a salvação de todas as nossas crianças, e a eliminação de focos da violência, da deseducação, da ignorância, da falta de oportunidade de emprego. Disse um amigo também montanhista, pior que desemprego é a falta de expectativa de emprego.
–O lugar (cume do Pão) já está edificado, e para uma atividade que gera empregos, não destroi vidas, que gera receita líquida perfeita, o turismo, que contribui para despiorar a pobreza, que engrandece a nossa cidade perante o mundo. Estamos lutando e dedicando nosso tempo contra as grandes ameaças (crime, violência, submissão de pessoas, falta de saneamento básico)? Ameaças para nós montanhistas como a virtual eliminação de tantos lugares para escalar por causa da violência? Nesses casos, tudo bem?
–Não conheço detalhes do projeto, mas o que vi, depois de 40 anos como especialista em avaliação de impacto ambientais é que não existe julgamento justo de qualquer ação sem considerar o contexto e o olhar holístico, Nós humanos fazemos parte também dos custos e dos benefícios do impacto ambiental.
–Para finalizar, montanhistas destruíram as pedras do trepa-pedra do Costão em 2004, se não me engano, para que “a gentalha não suba mais lá” (expressão que constava da lista de e-mail da FMERJ. Não vi na época os montanhistas gritarem contra um ato claramente ilegal. Cometeram crime ambiental atacando e destruindo parte da trilha contra o direito do próprio povo da cidade que ousou caminhar pela trilha dos senhores alpinistas. Na verdade, muitos montanhistas me disseram que era melhor a gente “fingir” que não aconteceu nada.
Hipocrisia, falta de humanidade de verdade, não fingida, fechando os olhos e vestindo seu “sprit de corp”, segregaram brasileiros com o mesmo direito que nós e tomaram a lei nas suas mãos.
Para pensar e procurar no fundo da nossa consciência se estamos lutando a boa luta, verdadeira, que causa os grandes males, não só aquelas cuja bandeira parece bonitinha. Nem tudo é o que parece ser.
Grande contribuição, Pedro. Muitíssimo obrigado por compartilhar.
Prudente e racional o texto. As paixões são maravilhas do coração que explodem em risos e lágrimas.
Tetê, não nos conhecemos mas me sinto na obrigação de esclarecer alguns pontos de seu comentário:
– a FEMERJ tratou do assunto dentro de seu conselho técnico que é composto por presidentes dos clubes e membros indicados por todas as entidades filiadas. Não sei se vc faz parte de algum clube, mas se faz e não foi informada, vale buscar mais informações no seu clube.
– os moradores da urca form consultados via Conselho Consultivo do Monumento Natural Pão de Açúcar, duas associações de moradores de lá fazem parte do Conselho, bem como o GAE, a Femerj, pesquisadores e Iphan
– o projeto de expansão, como foi explicado na terça, ainda não foi aprovado e é desvinculado do projeto da tirolesa, de modo que não se sabe se será ou não implementado. Além disso, qualquer alteração no projeto original deverá voltar ao Conselho do MoNa para discussão com a sociedade.
Mariana, também me sinto na obrigação de te esclarecer alguns pontos da sua resposta à Tetê. Sobre esta tal reunião do Conselho do MoNa, a Caminho Aéreo chamou para reuniões individuais cada conselheiro para falar do projeto. Por quê? Por que não fez uma reunião com todos ao mesmo tempo? Uma reunião conjunta só aconteceu porque o GAE pediu. E ter apresentado não significa que este projeto absurdo foi aceito pelos conselheiros. Não houve votação. A ata desta reunião tem uma frase muito mal colocada ali que pode gerar este tipo de interpretação, mas a verdade é que o GAE logo a seguir a esta reunião enviou para o grupo do Conselho um documento manifestando o nosso posicionamento contrário. No entanto, para que esta interpretação errada pare de acontecer, o GAE vai pedir que na próxima reunião do Conselho haja uma votação.
Em relação aos outros projetos, você acredita mesmo que a empresa tenha enviado para aprovação nos órgãos sem intenção de realizá-los? Sério?
Mais uma coisa, um projeto que afeta a paisagem tombada da cidade, que faz alterações irreversíveis num ícone internacional, no Pão de Açúcar, não pode ficar restrito ao Conselho do MoNa. Ali tem alguns representantes da sociedade civil, mas não representa ela toda. É um grupo muito pequeno para um absurdo tão grande.
Boa tarde, Mari, tomei conhecimento do projeto das 04 tirolesas na reunião do CEB, clube do qual também sou associada. Como Francisco Saraiva, do CE Guanabara colocou muito bem colocou muito bem ” A Tirolesa não é um esporte de aventura. É um brinquedo, cujo custo é a descaracterização de um dos mais belos atrativos do Rio.” O conselho do Mona não se colocou nem contra nem a favor quando foi onformado a tirollesa. e devem fazer uma reunião para assumir uma posição. O fato é que o Pão de Açúcar é um bem tombado, haverá sim, acréscimo de área construída e pelo andar da carruagem dos novos projetos, em breve teremos no Mona Pão de Açúcar uma grande concorrência ao Botafogo Praia Dhopping e ao Shopping Rio Sul à revelia dos moradores das adjacências que são contra o projeto.
Sobre a FEMERJ, existe um grupo de trabalho em andamento com representantes dos federados,
para que a FEMErJ possa se posicionar, já que o conselho declara não ter sido nem contra nem a favor.
Uma colocação bem evoluída sobre o assunto.
Maravilha de texto. Falta humildade, e senso de coletivo… Cada dia mais, as pessoas querendo defender o delas, o ego …. Muito boa análise para diversas situações, não só para as escaladas. Para a vida. Abraço mestre!
Obrigado Tati. Compartilhamos esses mesmos ideais.
Ótimo texto. Realmente, não podemos querer ser os donos dos locais. Quanto mais gente amar a montanha, pelo motivo que for, mais voz e peso teremos para ter mais áreas protegidas, frequentadas e cuidadas.
Parabéns pela lucidez e sensatez. E pelo belo e muito bem articulado texto. Uma das poucas vantagens da velhice é a sensatez! Chega de bancar o Pokemón: bateu, levou! está certíssimo. Eu finalmente, depois de 20 anos, escalei o PA e espero voltar muitas vezes.
Parabéns para esclada, Tite. E vamos bebeemorar juntos nosso aniversário esse ano.
Equilíbrio e sensatez em um texto que escreve quem experimentou todas as faces de uma rocha e do montanhismo. Obrigado por dividir seus pensamentos de forma aberta e abrangente.
Obrigado Barretta. Quem viveu o processo de criação de entidades, UC’s e teve que construir formas de dialogar, sabe que os ouvidos estão abertos para a nossa comunidade por que alguém agiu com temperamento ponderado no passado.
Eliseu Frechou sobre a tirolesa algumas coisas me preocupam e ontem pude ouvir como lidarão com esses pontos. E fiquei parcialmente satisfeito com as respostas.
1- queda de objetos pessoais dos tirolesantes. Vi que na cadeirinha fizeram uma espécie de mochila integrada onde os objetos serão obrigatoriamente guardados. De qualquer forma sempre existe o risco de alguém ter um segundo celular para gravar a viagem. E desde que Newton sancionou a lei da gravidade, as coisas caem.
2 gritos. Poluição sonora também é Poluição. Foram realizados testes para quantificar esse impacto. Sendo possível ouvir gritos na casa dos 40 db na trilha que liga o pão de açúcar ao morro da urca. Não foram realizados testes na parede do pão de açúcar. E muito menos próximo a decolagem. (Ao menos não divulgaram)
Para reduzir o volume do grito, vai rolar um capacete fechado que abafa o ruído e os tais 40db já são com esse treco.
3 rolou derramamento de resíduos. E parece que já foi resolvido. Essa parte não ficou clara.
4 por último a possibilidade de “imprevistos ” durante as obras levando a construtora a ultrapassar os limites contratados.
No geral, não vejo grandes problemas com a tirolesa. Isso se as coisas ocorrerem conforme mostrado ontem.
Vamos ficar de olho, fiscalizar, e sempre questionar de uma forma a manter a porta aberta
Escalada
Acho que você não leu o texto. Não é disputa. Se continuar nesse rumo, todos irão perder.
Muito sensato, parabéns.
Ótimo texto. Sem comunicação e entendimento de todos os envolvidos nada vai para a frente.
Parabéns. Mestre é mestre. In medio stat virtus!
Já tem tiroleza no PA! O bondinho!
O mínimo impacto só vale pra nós?
Tá parecendo que o pessoal quer mesmo é mais um espaço instagramável pra berrar WOHOOO!
Nos lugares mais calmos, contemplativos, onde a natureza reinava silenciosa, … agora encontranos pessoas gritando WOHOOO!!!
♂️
Parabéns pela sensatez. Fundamental ouvir todas as partes com inteligência e coerência. Ser contra sem refletir e ponderar é temerário.
Parabéns pela sensatez.