Midnight lightning
Ontem a noite, procurando uma imagem nos arquivos, me deparei com outra que para quem conhece a história da escalada e do boulder, é de arrepiar. Fiz em 94, quando estive a primeira vez no Camp 4. Aproveitando o momento, achei a história muito bem contada por Chris Parker e a traduzi pra quem não a conhece.
Midnight lightning
No início, não havia nada além de uma face de granito lisa no centro do Camp 4, o mais famoso camping do vale de Yosemite. Durante anos, os escaladores chamaram a pedra de Columbia Boulder, mas ainda assim… era apenas uma pedra.
Em 1978, no entanto, um escalador prodigioso e frito de ácido chamado John ” Yabo ” Yablonski, imaginou uma linha improvável no boulder Columbia, e conseguiu convencer os seus companheiros Ron Kauk e John Bachar a gastar energia tentando o problema. No início, eles pensavam que ele era louco. Mas à medida que os dias e as semanas passavam, Kauk e Bachar encontraram-se conectando um movimento “impossível” com o próximo e, finalmente, chegaram à agarra apelidada de Raio da meia-noite – nomeada em lembrança a música de Jimi Hendrix.
Depois de dois meses de esforço, Kauk chegou à virada do boulder, e naquele momento o “nada” de repente se tornou algo significativo. Midnight Lightning (V8) tinha se transformado em um dos mais difíceis problemas de boulder do mundo.
John Bachar conseguiu finalizar o boulder de outra forma, mais direta, e se tornou a segunda pessoa a escalar o Lightning. E nos próximos sete anos, Bachar foi o único a subir de forma consistente o problema, que ele às vezes repetia cinco vezes seguidas, ou mesmo descalço!
Em um momento de expressão artística, Bachar pegou um tanto de magnésio e desenhou um raio na face de granito mais lisa ao lado do problema. Para muitos, esse desenho giz se tornou um símbolo que representava o espírito da escalada em Yosemite. O problema tornou-se famoso. As pessoas viajavam de todo o mundo para tentar fazê-lo, e aqueles que foram capazes de mandá-lo, refaziam o raio com magnésio, deixando a sua própria história na face de um símbolo que, inevitavelmente, mudaria ao longo do anos e foi até mesmo ser danificado pela tempestade ocasional inverno, mas apenas para ser restaurado como um afresco italiano para resistir ao teste do tempo e manter a história.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
Related Articles
Porteiras Fechadas
Artigo para a revista Go Outside, abril 2008 Por que administradores de points de escalada em rocha proibiram tal prática
Via Ferrata no Itabira, ES ?
Half Dome (Yosemite, EUA), Grande Civetta (Dolomitas, IT), Pedra do Baú (Serra da Mantiqueira, SP) tem em comum impressionantes vias
Rumos da Escalada de Competição foram discutidos em São Bento do Sapucaí
Aconteceu ontem, na cidade de São Bento do Sapucaí, uma reunião com alguns dos grandes nomes da escalada esportiva brasileira