Carta Aberta sobre a Escalada em São Bento do Sapucaí durante esse momento de Pandemia
Pacto de intenção: E se precisarmos abrir mão de escalar uma temporada para escalar sempre no futuro, você está junto?
Maio 2020 – São Bento do Sapucaí
Salve escaladores e escaladoras, a situação do COVID-19 no município de São Bento do Sapucaí, nesse momento, encontra-se controlada com somente 1 caso confirmado e outros poucos casos gripais monitorados, apesar de uma Pandemia mundial há 6 meses.
A estrutura de saúde da cidade está fazendo o máximo para manter o maior cuidado possível para não colocar a população em maiores riscos desnecessários pois não há leitos de UTI no município e possuímos poucas unidades de respiradores disponíveis, sendo assim todo o cuidado é pouco.
Isso inclui a todos nós como também as populações rurais, carentes, idosas, grupos de risco e todos aqueles que não possuem estabilidade de recursos financeiros nem planos de saúde e que também são carentes de informações e possuem poucas possibilidades de reverterem uma crise mais aguda.
São Bento do Sapucaí é uma Estância Turística Climática importante da Serra da Mantiqueira, com destaque para as atividades de montanha tanto esportivas como culturais e produções artesanais, o município está nesse momento solicitando uma pausa na visitação externa da cidade assim como internamente também deixarmos de aproveitar essa incrível atmosfera que São Bento do Sapucaí possui.
A cidade atrai ano após ano cada vez mais montanhistas para residir ou para ter sua segunda morada aqui, formando uma comunidade mesmo que desorganizada com uma responsabilidade enorme de impactar o mínimo possível tudo aquilo de incrível que nos faz querer estar aqui.
Essa comunidade possui, na sua grande maioria, condições socioeconômicas e intelectuais de contribuir positivamente com esse ambiente, como assim o vem fazendo com a migração de diversos profissionais que antes eram escassos e que agora circulam por aqui e que aos poucos vêm atuando de forma a contribuir com suas habilidades neste município.
Pois bem, todos que aqui estamos não estamos podendo fazer o que nos moveu para cá, ou seja, escalar. Estamos enfrentando uma abstinência que nos leva naturalmente a questionar por que não iniciar um movimento de retorno à essa atividade.
Conhecendo boa parte das características locais e de o quanto já se trabalhou para termos a liberdade e o prazer de usufruirmos da escalada em tantas propriedades com o consentimento da grande maioria de proprietários, apesar de todo incômodo que parte de nós causa por motivos diversos, estamos aqui colocando fortemente algumas recomendações:
– Acreditamos que ainda não é hora de colocarmos em risco proprietários nem tampouco incomodá-los para que autorizem a reabertura dos points de escalada, não há maneira segura de fazer isso visto a não organização e o não entendimento da comunidade entre si. Orgãos de saúde também tem dúvidas sobre o quanto é seguro ou perigoso sair de casa hoje. O Ministério da Saúde ainda não tem um protocolo 100% confiável para evitar o contágio dessas pessoas frágeis, que se encontram em áreas rurais, sem acesso fácil a hospitais.
– É hora sim de repensarmos nossas atitudes, nossos impactos, o que ignoramos e iniciar um processo de melhora de conduta para quando for possível o retorno voltarmos melhores, mais amistosos e solidários com esse ambiente. Não é o fim do mundo deixar de escalar por um tempo.
A intenção desta carta não é a de ditar regras controladoras ou repressoras e sim dar um alerta sobre se realmente o que se está discutindo nesse momento, ou seja a volta às escaladas, é prioridade e trará benefícios ao Município de São Bento do Sapucaí como um todo e não somente para nós escaladores uma minoria muito privilegiada, podemos olhar essa manifestação como um pacto para um bem maior.
Quando o abrandamento da quarentena for iniciado, e a Pedra do Baú, Bauzinho e Ana Chata forem reabertas para visitação, este deve ser o único point considerado seguro para escalar, justamente pelo fato de não ser propriedade particular, além disso é um local que abriga uma capacidade grande para escaladores o que facilita o distanciamento e o cuidado com a aglomeração desnecessária.
Lugares como Pedra da Divisa, Quilombo, Quilombinho, Vista Aérea, Lagarto, Olhos, Bigode, Monjolinho e outros, deverão ser tratados caso a caso, com visita aos proprietários e consequente repasse de informações sobre quais deles os proprietários aceitam o reinício das atividades esportivas.
Essas permissões serão dadas pelos proprietários, com base em orientações e protocolos sanitários oficiais. A medida que as conversas forem evoluindo, divulgaremos as reaberturas. Portanto, evite se dirigir a essas propriedades querendo escalar. Todas continuarão fechadas para proteger a população local, até que se divulgue a reabertura de determinado setor.
Assinam essa carta aqueles que concordam totalmente ou em parte com as ideias acima, pois há muito o que se aprender nesse momento.
Você pode participar desse pacto conosco, assim como de novas iniciativas que facilitem com segurança a voltarmos para a escalada em São Bento do Sapucaí.
Pedimos que ajudem a divulgar esse documento e incluam seu nome abaixo para que seja um representante dessas ideias apesar de todas as diferenças que possamos ainda enfrentar enquanto coletivo, desejamos melhore dias a todos.
Att.
Ana Fujita, André Berezoski, Antônio Calvo, Arjuna Sundara, Camila Locks , Charlie Alves, Cláudio Brisighello, Dani Pinto, Daniel Cotelessa, Dênis Dimy Ramon, Eliseu Frechou, Fabrício Barbosa, Leandro de Oliveira Costa Pardal, Leonard Moreira, Mahira Braga, Marcio Bruno de Oliveira, Marco Aurélio Lelo, Maria Julia Busato, Nelson Barreta, Nívea Novaes, Yuri Hayashi.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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