Igatú – escaladas e sossego na Chapada Diamantina

Igatú – escaladas e sossego na Chapada Diamantina
Eliseu Frechou

Ana na “Asteróide” – setor Labirinto

Escalar na Chapada Diamantina é uma experiência inesquecível para qualquer escalador, independentemente dos lugares onde ele tenha um dia escalado. Uma rocha de excelente qualidade, multicolorida, vertical e com agarras em negativos, e uma infraestrutura de hotéis, pousadas, campings e restaurantes para todos os bolsos e gostos, tornou o point referência do bouldering e da escalada esportiva.

Este ano, estive pela quinta vez, tendo como das outras vezes, fazendo base no povoado de Igatú, que apesar de ser um dos menores da Chapada, é uma das que oferecem as menores aproximações e apesar de internet e telefonia bem limitadas, o restante das facilidades e segurança do lugar, fazem desta, na minha opinião, a melhor cidade-base. Lençóis também é uma cidade excepcional para escalar, com conglomerado, ao invés do quartzito de Igatú, como rocha predominante, mas é uma cidade maior, onde como em qualquer outro centro turístico, tem-se que tomar mais cuidado com a segurança e os preços são mais salgados – em contra partida, internet e telefone funcionam perfeitamente bem, hás mais opções de pousadas e restaurantes.

Labirinto

Em Igatú, o maior setor é o Labirinto, que também tem o acesso mais curto e rápido de todos, ficando quase que na área urbana do povoado. Conta com mais de 80 vias em quartzito, sendo a maior parte bem protegida com chapeletas, e com bases para rapel duplicadas. No croqui feito no EENE de 2014  (Croqui Igatú 2014) há muitas vias por serem acrescentadas, e algumas correções sobre as conquistas, mas mesmo assim dá para se orientar perfeitamente, e é a melhor referência disponível no momento. Muitas das vias novas que não estão no croqui, tem a proteção mais espaçada em relação ao estilo das rotas mais clássicas. Tome cuidado na hora de costurar, pois algumas podem ocasionar quedas próximas ao chão. Identificamos algumas que tinham esse risco potencial e resolvemos não entrar. Mesmo o escalador dominando o grau, a característica da rocha é de formar agarras em lacas finas, que podem facilmente quebrar, ocasionando uma queda inesperada, em uma via que parecia fácil.

O Labirinto oferece vias na sobra em boa parte do dia. Os corredores são agradáveis de ficar, pois tem a temperatura bem mais amena do que fora deles, ou no topo das paredes. Há cavernas e negativos por todo o lugar, o que é um abrigo bem agradável no caso de chuva.

Ana na "Meu parceiro é crente" - setor Labirinto

Ana na “Meu parceiro é crente” – setor Labirinto

Jorge na "Primavera" - Setor Labirinto

Jorge na “Primavera” – Setor Labirinto

Eliseu em 2006 na abertura da "Honras da casa" - setor Labirinto

Eliseu em 2006 na abertura da “Honras da casa” – setor Labirinto. Nesta primeira viagem à Chapada, não levamos grampeação, então só conseguimos abrir algumas vias com proteção móvel. Esta via fica a esquerda da “Meu parceiro é crente”.

Eliseu em 2006 na abertura da "Cartas na mesa" - setor Labirinto

Eliseu em 2006 na abertura da “Cartas na mesa”. Crux protegido com um micro friend numa fenda diagonal. Via a direita da “Asteróide” – setor Labirinto

Califórnia

Este setor é um pouco distante do povoado, mas a caminhada de 40min é bem agradável e bonita.

As vias são menores e em menor número do que no Labirinto, mas valem pela beleza e rocha perfeita, que forma mais abaulados do que regletes. As vias ao lado da “Fuga pela aresta”, logo a esquerda da cachoeira são as mais frequentadas, mas algumas já precisam de uma atualizada nas proteções.

Neste ano, a cachoeira estava quase sem água, mas mesmo assim rolou de tomar um banho depois da escalada.

Caminhada para o setor Califórnia.

Caminhada para o setor Califórnia.

Jorge na "Lampião e Maria Bonita" - setor Califórnia

Jorge na “Lampião e Maria Bonita” – setor Califórnia

Ana na "Vai que dá", que foi a primeira via de Igatú, aberta em 2003 por Chiquinho Hartmann e Márcio.

Ana na “Vai que dá”, que foi a primeira via de Igatú, aberta em 2003 por Chiquinho Hartmann e Márcio.

Eliseu na "Fuga pela aresta".

Eliseu na “Fuga pela aresta”. Uma via espetacular que merece ser regrampeada.

Cruzeiro

Não deu pra ir ao Cruzeiro nesta viagem, mas o setor é bem interessante, e protegido da chuva, o que o torna uma opção a ser cogitada em dias molhados. Lá o Beto, Wagner Pahl e eu abrimos duas vias, uma que está no guia, chamada “Dias de Tempestade”, e outra chamada de “Cascavel”, uma via que segue em diagonal para a esquerda e depois sobe até o platô de onde sai a “Dias de Tempestade” é protegida em chapeletas mas não está no croqui, então mostro a imagem abaixo, feita no dia da conquista.

Eliseu na cadena, após a conquista da "Cascavel" - setor Cruzeiro

Eliseu na cadena da “Cascavel”, logo após a abertura da via, em 2008 – setor Cruzeiro

Eliseu na "Dias de tempestade", 2008

Eliseu na “Dias de tempestade”, 2008

Verruga

Foi a primeira vez que estivemos nesse setor, que é bem negativo na primeira parede, mas tem vias mais tranquilas no labirinto logo atrás deste primeiro bloco. O setor é bem próximo do centro de Igatú, portanto estava bem cheio, e só deu para entrar numa via entre “Manga do céu” e “Vôo no visu”, que parece algo em torno do 7a e é realmente divertida, pois apesar do negativo ser forte, as agarras são bem cavadas. Nos blocos de trás, escalamos mais duas vias que apesar de fáceis valem muito a pena.

Crowd no setor Verruga. Vias alucinantes no negativo da parede na entrada do setor.

Crowd no setor Verruga. Vias alucinantes no negativo da parede na entrada do setor.

Ana na "Predileta", setor Verruga

Ana na “Predileta”, setor Verruga

Trianglin

Setor com várias vias em móvel, um pouco mais afastado de Igatú. Vale a pena ir num dia nublado, evitando caminhar no sol. Peça informações para não se perder.

Artur Frechou em 2008 escalando numa via do Trianglin, a qual eu não me recordo o nome.

Artur Frechou em 2008 escalando numa via do Trianglin, a qual eu não me recordo o nome.

Beto, em 2008

Beto, em 2008

 

Dicas

O quartzito da região é bem agressivo, então reserve uns dias para descansar e recuperar a pele das mãos. Visitar as cachoeiras e cidades vizinhas é uma excelente opção.

Os escaladores LP (Hostel Igatú) e Rafael (Abrigo XiqueXique) oferecem hospedagem e infos sobre o local. Se as acomodações forem do seu agrado, dê preferência a quem é da comunidade e ajuda a desenvolver a escalada no lugar. Também indicamos a Pousada Mangalô, a Casa da Letícia e o Hotel Cristal Art.

Vida tranquila, no povoado de Igatú.

Vida tranquila, no povoado de Igatú.

Cascavéis. Tem. E muitas! Tome cuidado redobrado nos setores menos visitados.

Cascavéis. Tome cuidado redobrado nos setores menos visitados.

 

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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