Expedição Lotus Flower Tower – o topo e a volta
Após o platô do Bivaque, como é conhecido este que é único platô realmente decente de toda a via, a rota segue por um diedro mais uma enfiada e meia, para depois entrar no “headwall mais bonito do planeta“.
Headwall é um termo americano que designa a parte superior de uma grande parede. Este seção da Lotus Flower tem 8 enfiadas, e desta vez é o Valdesir que assume a liderança, indo até o crux, onde eu guio já no “bico de corvo“, sentindo câimbras pela falta de água e comida, e com os pés destruídos. A estratégia de deixarmos as botas na base da montanha se mostrou uma furada numa via com paradas negativas, e que impossibilitava-nos de descalçar as sapatas para aliviar a pressão dos pés.
Passo o lance roubando descaradamente, meio em livre, meio artificial e para minha felicidade, a enfiada é curta, uns 35m apenas. Ufa!
A enfiada seguinte é de novo por fendas perfeitas e o Val guia mais uma, passando as duas finais para mim. Este trecho é tranqüilo, eu costuro em bem poucas proteções e consigo esticando a corda, chegar na parada juntando as duas enfiadas finais em apenas uma.
O Val sobe rápido, mas o Fernando tem problemas com a corda que insiste em prender nas fendas. São 19h00 quando os 3 chegam ao topo. Agilizamos rápido a descida e “caímos controladamente” montanha abaixo. As primeiras paradas são à prova de bomba, mas a medida que descemos, o estilo alpino piton/lacas com cordeletes predomina novamente, o que dá um frio na barriga
As 23h00, na última luz do dia, chego à base. Acendo a headlamp e a vontade é de deitar e dormir ali mesmo.
Na exaustiva caminhada de volta, fomos presenteados com uma aurora boreal. Sento no vento frio e agradeço. Agradeço por ter a saúde e a oportunidade de estar ali naquele momento, de ter tido a sorte na vida de escolher um esporte e um estilo de vida que me possibilitou tantas alegrias e conquistas pessoais como esta.
Agradecimentos à:
CONQUISTA
DEUTER
LIOFOODS
MONTANHISMUS
SOLO
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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