Corujas – uma breve história do setor mais negativo da Pedra da Divisa
2002
Por volta de 2002, Wendel Goulart e eu abrimos a África, primeira via a ser equipada no setor mais negativo da parede paulista da Pedra da Divisa. Subi por uns platôs de mato a esquerda de onde hoje está fixada a corrente que protege o trecho inicial da aproximação, e bati a base que serviu para equipar a via.
Ainda nesse ano fui com o Arjuna Sundara, Wendel e João Alberto Costa para inspecionar as paredes negativas. Voltamos e subimos até a base da África, escalei por uma fenda que sobe rente a uma árvore e ao chegar hoje no platô da parada da via O Vôo da Coruja, tomei um enorme susto com uma coruja branca gigante (juro, era gigante), saindo do buraco e quase me derrubando. Recobrado o susto, equipamos uma das vias mais alucinantes da parede principal. Na sequencia veio a Duplex, que é mista com vários lances em micro nuts e talvez por isso, bem pouco repetida. Depois vieram Inércia e Napalm na qual tivemos a participação do Ralf Côrtes.
Um detalhe dessa época, precedente da escalada esportiva de hoje, era que para nós, a cadena só valia sacando costuras! Dava um pouco mais de trabalho mandar as vias, ahahaha.
2009
Nessa época, a falésia dos Olhos começou a ser explorada e dividia atenção de quem procurava a dificuldade, e então o Corujas passou por alguns anos de quase esquecimento. Até que em 2009 o Leandro “Pardal” Costa botou lenha na fogueira novamente.
Entre 2009 e 2010, Pardal, Rogério (Rogerinho) Santos, Creverson (Crevinho) Claro e eu passamos o rodo na parede principal e abrimos uma dezena de rotas até a Faixa de Gaza, limite além do qual, achávamos que a rocha era muito podre. As clássicas Exocet, Tomahawk e Agente Laranja foram abertas nessa época. Felizmente o Flávio “Massa” Castagnari forçou um pouco mais o limite e criou a linda Juízo Final.
2022
Ontem estive no setor com o Pardal e meu filho Vitor. Escalamos, fizemos força, demos risadas e assim como em 2002, planejamos novas conquistas, e nos demos conta de como a história se repete, que a amizade e o espírito de criar vias seguras para quem vai escalar depois sempre foi o que nos impulsionou a gastar tempo e dinheiro desenvolvendo setores inteiros, como o recém inaugurado Artão, obra do Pardal e do Alexandre “Jesus” Loureiro. Na Pedra da Divisa já abrimos mais de 140 vias, todas com proteções seguras e respeitando as regras do Sr. Dimas e D. Maria Elza, que não canso de agradecer a confiança e amizade em nos deixar escalar no quintal maravilhoso da casa deles.
Futuro
São Bento do Sapucaí se tornou um lugar de referência no cenário da escalada nacional por conta do trabalho de várias pessoas que criaram – desde 1959 – vias impressionantes em diversos estilos, que respeitaram as diferenças e cada vez que a ética ou a moda mudava, souberam respeitar as gerações passadas, pois é a história que nos faz evoluir e não apenas repetir o que já foi criado.
Após um terrível acidente fatal durante a abertura de via mais à direita da Juízo Final, ficou acertado entre a comunidade e o proprietário que não haveria mais conquistas no setor. Há muita rocha ainda por desbravar na região, então esta regra não afetará em nada o desenvolvimento da escalada.
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Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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