Nova rota na cachoeira do Tabuleiro

Nova rota na cachoeira do Tabuleiro

Em quatro dias de trabalho em solitário, uma nova via foi criada na imponente parede direita da Cachoeira do Tabuleiro, a terceira maior cachoeira do Brasil.

 

Haul bags na primeira parada.

Haul bags na primeira parada. Imagem: Ana Fujita.

 

A rota “Spacewalker” 5°VI A3 200m, tem início perto da base da via “Chá Macrobiótico”, e em duas enfiadas cheias atinge de forma independente o platô do meio da parede, vinte metros à direita da base da terceira enfiada da via “Hidro do Topo”.

As primeiras duas enfiadas são positivas e ligeiramente verticais a medida que chegam perto do platô de bivaque que marca o meio da parede, batizado na semana passada de platô Iannotta. Muitos blocos ainda estão por se soltarem, então máxima atenção é exigida aos que querem repetí-las, e eu ainda sugiro que o segundo faça segurança em algum lugar protegido dos boulders que certamente virão abaixo.

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Segunda enfiada. Note o enorme bloco solto em forma piramidal. Medo! Imagem: Artur Frechou

A terceira enfiada da “Spacewalker” inicia no platozinho da “Entre o Ego e a Realidade” e distancia-se dela logo após a terceira proteção, seguindo suavemente à esquerda em artificial de cliffs de buraco, rebites, colocações bem ruins em blocos encaixados e rocha fragmentada, que originaram o grau sugerido A3, até a primeira chapeleta, que está a cerca de 8m acima da primeira base da “Entre o Ego e a Realidade”. Mais 10m e encontra-se a base.

 

Terceira enfiada, um A3 em cliffs de agaraa, buracos, peças e blocos soltos... e todos os horrores de uma enfiada deste grau. A mais exposta até o momento. Ima: Ana Fujita

Terceira enfiada, um A3 em cliffs de agarra, buracos, peças encaixadas entre blocos soltos… e todos os demais horrores de uma enfiada deste grau. É a mais exposta até o momento. Imagem: Ana Fujita

A quarta enfiada, segue por um diedro fendado bem óbvio e alterna proteções estranhas, com outras bombproof, o que torna a enfiada perfeita para uma futura tentativa em livre. O final desta quarta enfiada, segue por outro diedro positivo, que finaliza quase no grande teto abaixo da rampa final que dá acesso ao cume. Este diedro, assim como a parte de baixo do teto, é repleto de grandes blocos soltos do tamanho de mochilas de ataque.

Eliseu Frechou

Quarta enfiada, logo abaixo da rampa final. Imagem: Artur Frechou

A rampa final parece ser bem diferente da rocha da parte inferior da parede. É positiva e deve ser mais fácil de escalar, mas é um pesadelo para puxar haul bags pois é coberta de vegetação e blocos encaixados.

Na conquista da segunda enfiada, um desses muitos blocos que caíram durante a conquista, quase atingiu o Eduardo Ralf e danificou uma das cordas. A partir do quarto dia da conquista, escaladores de Minas Gerais começaram a preparar cordas fixas para acessar o platô “Hidro no Topo”, em um evento em homenagem ao Mr. Bean, escalador que mais se dedicou à escalada no Tabuleiro, com grandes conquistas em MG, e que faleceu em janeiro no Fitz Roy. Içar bags, ou mesmo continuar em livre, se mostrou extremamente arriscado para as pessoas que visitam o poço abaixo da cachoeira e escaladores que estariam circulando na parte inferior e base da parede para participar da cerimônia em memória do nosso amigo. Resolvi descer da quarta parada para que a conquista não se transformasse em uma tragédia.

A primeira vontade é de subir e terminar a “Spacewalker” numa linha que riscaria a parede quase que reta. Pesando contra a finalização da via de forma independente, há vias à direita e à esquerda que fluem por rocha de boa qualidade e limpa; e que apesar de serem num estilo diferente, com grampeação mais farta, são possibilidades para acessar o cume. Então, agora que voltei com a equipe durante 10 horas de estrada, matutando os próximas passos, uma possível volta para finalizar a via até o topo – ou dar a conquista como terminada na quarta enfiada – resolvi não fazer o croqui, até que tenha tomado a decisão do que fazer.

Eliseu Frechou

Visão da quarta enfiada.

Quero agradecer à minha esposa Ana, meu filho Artur que foram minha equipe de apoio desde o início.

Ao Parque Natural do Tabuleiro e sua gestora Junia Aguiar pelo apoio e incentivo à escalada no Tabuleiro. Ao Luís Monteiro “Lugoma” pela articulação local e dedicação à Federação de Montanhismo e Escalada de Minas Gerais.

Aos meus patrocinadores e apoiadores, e em especial à SOLO que possibilitou a participação do Edson Vandeira que mais uma vez, registrou de forma magistral e incansável a aventura.

Obrigado à:

DEUTER – sacos de dormir, mochilas e acessórios
SBI OUTDOOR – ferragens e cordas TRANGO e sapatilhas TENAYA
ÂNCORA – Parabolts
EINHELL – marteletes
DACHSTEIN – botas

A ferradura do Tabuleiro. Imagem Artur Frechou

A ferradura do Tabuleiro. Imagem Artur Frechou

 

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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