Aiguille du Midi – Alpes 2014

Aiguille du Midi – Alpes 2014
Descendo para o Valle Blanche

Descendo para o Valle Blanche

Estar nos Alpes é o desejo de qualquer montanhista. Meu interesse pela escalada e o sonho de um dia ser profissional de montanha, começou ao ler “Os Conquistadores do Inútil” de Lionel Terray, aos 15 anos de idade. Então para mim, estar nesse lugar tem um significado a mais do que simplesmente escalar montanhas. Grande parte das histórias de Terray aconteceram nessas agulhas de Chamonix.

Apesar de não entender nada de escalada em gelo, por sorte tenho amigos como a Lisete Florenzano, Nelson Barretta e Davi Marski, que nos deram todas as dicas para chegar aqui e nos situarmos no ambiente alpino. Logo no primeiro dia, encontramos o Pedro Mestriner, brasileiro fera na escalada que mora a alguns anos em Barcelona e também nos ajudou com muitas infos. Bem… você pode, lógicamente, chegar aqui e contratar um guia, nada contra, mas para nós que já temos alguma vivência na montanha, talvez a aclimatação não seja tão difícil, além do que para brasileiros, sai bem caro contratar as empresas daqui. Então vamos tentar mais um pouco antes de recorrermos a este apoio.

O segundo dia em Chamonix amanheceu nublado e nos fez desistir do plano inicial de escalar a via Rébuffat, mas mesmo assim  Fernando e eu deixamos o equipo de rocha guardado e fomos de teleférico à Aiguille du Midi apenas andar no gelo e ver qual é a sensação de andar com todos esses equipamentos pontiagudos.

Para nossa sorte – e raiva – o tempo na Aiguille du Midi (3.842m) estava perfeito. Céu azul, sem vento. Perfeito. Bem, resolvemos ficar por lá o máximo que pudéssemos para aclimatar. A saída da estação de teleférico é vertiginosa. Uma aresta bem afiada onde só anda uma pessoa, com abismos dos dois lado. Péssimo lugar para aprender a andar com grampons. Mas já que não havia jeito, falo pro Fernando ir à frente e eu vou fazendo segurança  para ele, 20m atrás.

Tá… andar na rocha é uma coisa. Aqui é diferente. Pareço quem acaba de fazer um curso básico e já vai escalar no Baú. Só que não. Não estou pisando em terreno firme, é exposto e dá medo. Europeus passam a aresta saltitando. Ok. Calma. Me concentro para não perder a dignidade (pois a vontade é descer agachado, ahahahaha) e repasso na memória a maneira como a Lisete e o Barretta me falaram pra fazer: andar devagar, usar a piqueta e manter a tranquilidade. Meu! psicológico de 9° grau em móvel. Foi um alívio chegar ao final da aresta. A galera que faz gelo e já esteve aqui vai rir de mim. Tudo bem, sou pangaré mesmo, então o jeito é rir da situação. No final da viagem devo estar melhor nesse negócio de andar e escalar sobre água congelada.

Aresta na saída da estação da Aiguille du Midi. Vixi! Lá vamos nós!

Aresta na saída da estação da Aiguille du Midi. Vixi! Lá vamos nós!

Passada a adrena inicial, vamos nos acostumando aos novos equipamentos, descascando as camadas de roupa, já que o sol começava a nos cozinhar, e vamos conhecer o Refúgio Cosmique, que fica no Col entre a Agulha e o Mont Blanc du Tacul. Como a ideia é subir o Mont Blanc, já conhecemos o lugar e pegamos os betas necessários. O mais importante, foi sabermos que no abrigo há comida, cama com cobertores e gente para te acordar, o que ajuda bem, já que podemos ir mais leves e concentrados na subida da montanha.

Fernando no meio do Vale abaixo da Aiguille du Midi.

Fernando no meio do Vale abaixo da Aiguille du Midi.

Na volta, encontramos alguns guias franceses que estavam dizendo que os montanhistas que tentaram a travessia dos três montes naquele dia estavam voltando sem fazer cume, pois no Col do Mont Maudit haviam seracs impossibilitando a passagem. 🙁

Mas isso foi ontem. Hoje o Fernando amanheceu bem mal por conta, achamos, da altitude de ontem, então resolveu descansar e estudar a possibilidade de subir a via Normal, pelo outro lado da montanha. A via Normal é mais íngreme mas menor que a travessia do Mont Blanc du Tacul, Mont Maudit e Mont Blanc. Daí teremos que dormir no refúgio Goûter, que fica em Houches, uma cidade ao lado de Chamonix. Neste momento estamos pensando no que fazer, e amanhã seguimos para um dos abrigos: Cosmique ou Goûter.

Para quem quiser se situar na história, eis o link do Google Maps

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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