Nós errados e escaladores com vocação pra defunto
Em minha vida de escalador já vi muitos procedimentos errados. Técnicas que achávamos certas e depois de muito tempo, descobriu-se estarem erradas. Foi assim com os baudriers integrais e alguns nós que, importados de outras modalidades para serem usadas na escalada, descobriram-se serem perigosos quando aplicados em situações corriqueiras na montanha.
Também já tive infelizes oportunidades em resgates onde presenciei os desastres de técnicas e nós mal utilizados. A mais recente em nossa região ainda está bastante viva na memória dos montanhistas de São Bento do Sapucaí: http://eliseufrechou.blogspot.com.br/2008/04/acidente-na-ana-chata-concluses.html
O que quero ressaltar, é que nem todos os nós servem para serem usados em todas as situações da escalada, e outros, mesmo polivalentes, podem dar margem ao erro: e o nó de pescador, um dos mais simples e fáceis de fazer, em minha opinião é um destes.
Em 1993, tivemos o primeiro acidente fatal de escalada no Conjunto Pedra do Baú. foram vários procedimentos errados que levaram à fatalidade, um deles, o pescador que fechava o prussik do baudrier abriu (o nó não deveria estar com sobra suficiente ou mal feito) e o montanhista não havia feito back up na corda em que estava subindo. Quando o pescador abriu, o escalador caiu mais de 150m.
Esta semana, ao escalar com um aluno, ao chegar na primeira parada da via, me deparei com um nó que poderia de longe, parecer um pescador duplo, mas não era (foto abaixo). Este nó foi usado em conjunto com uma chapeleta de rapel, para o escalador descer.
O pescador duplo é um nó para junção de cordas e cordeletes, que se faz dando duas voltas com a corda (voltando) por cima da outra corda que se quer amarrar. O escalador que fez este nó, ao invés de voltar as laçadas, as fez pela frente.
Em nossa região, muitas vias tem chapeletas nas bases, forçando a quem queira abandonar a via, deixar um cordelete (fechado com nó) na chapeleta para proteger a corda das rebarbas afiadas do perfil da chapeleta. Depois de ver muitos escaladores errarem ao fazer o pescador, ensino hoje os meus alunos a fazerem o nó de fita para fecharem os cordeletes. Este nó é muito mais simples e fácil de identificar se for mal feito. Para unir cordas, uso o oito, que é a prova de bomba. Fica a dica.
Há diversos cursos e livros que ensinam fazer os nós corretos para cada situação, mas cabe ao escalador treinar e saber fazer os nós numa situação de tensão, molhado, no escuro. Disso depende nossas vidas cada vez que vamos escalar. Outro procedimento que constantemente vejo que não é padrão – e deveria – é o de escaladores passarem uma vistoria nos nós e demais equipamentos dos companheiros para saber se está tudo correto.
Portanto aí vai um alerta para que todos mantenhamos a nós e os companheiros e segurança. Um erro tão grave como um nó errado é o suficiente para se errar apenas uma vez, e “jacaré que dá bobeira, vira bolsa“.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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