Mont Blanc du Tacul – Alpes 2014
Para finalizar a trip à Chamonix, a Ana queria fazer uma montanha de 4mil metros. Para tentarmos o Mont Blanc, conforme eu já sabia, precisaríamos de 3 dias. Mas havia a opção de em 1 dia, subirmos e baixarmos do Mont Blanc du Tacul, que está na faixa dos 4.200m. Perfeito.
A previsão, até o dia anterior da escalada, era de tempo instável após o meio-dia. Na incerteza do tempo, achamos melhor não tentarmos algo tão grande e demorado tanto para subir, quanto para descer em caso de tempestade. Mas como a esperança é a última que morre, arrumamos tudo e fomos para a estação do teleférico bem cedo, com ideia de vermos a previsão mais segura do dia, e então decidir. E eis que a previsão deu tempo bom até a noite. Simboraaaaa!
O dia estava bem atípico para Chamonix: poucos escaladores no bondinho, sol, não estava muito frio e quase sem vento. Dava até pra duvidar. Mas nos arrumamos rápido a partimos aresta abaixo, em direção ao Tacul, passando pelo abrigo Cosmiques e iniciando as rampas ainda na sombra.
A subida é lenta. Algumas gretas e seracs pelo caminho, que são passamos com a ajuda de cordas que estão fixas, e a ilusão de ótica nos vai enganando, pois sempre que vislumbramos o topo, que parece perto, aparece mais uma rampa ou crista para nos mostrar que a montanha não é fácil de ser escalada.
A Ana vai bem, não sente a altitude e dá graças ao treino que fez em casa, fortalecendo as pernas e o pulmão, para agora, manter o fôlego e o ritmo. A inclinação não chega a ser grande, e poucas vezes usamos as piquetas, na maior parte do tempo, elas servem apenas como apoio.
Ao chegarmos na crista final, o sol nos aquece e dá um ânimo extra para curtirmos ainda mais o momento. O visual do outro lado vai se abrindo à nossa frente a medida que chegamos ao topo. Vemos a Itália, a Suíça e montanhas a perder brancas de vista, que formam a espinha dorsal dos Alpes. As nuvens vão e vem, abrindo e fechando janelas no horizonte.
Poucos montanhistas estão na montanha nesse dia. Vemos alguns no Mont Maudit, e lá no fundo, alguém descendo do Mont Blanc. Lindo. Comemos um lanche, fazemos umas imagens e tocamos para baixo, com medo de que a temperatura subisse demais e derretesse a neve, transformando a descida perigosa e ensopando nossas roupas.
Não foi um grande desafio nem marca digna de nota nos anais do esporte. Tanto a Ana como eu nos cansamos bastante, o que é normal, mas estábvamos longe do limite ou esgotamento. Foi, entretanto, uma experiência bem legal, que queremos repetir quando for possível.
A volta, já no Valle Blanche, foi devagar. O sol castigou, e como não estávamos mais com pressa, demoramos para curtir os últimos passos no gelo, e reprisarmos em nossas mentes, o quanto foi recompensador termos trocado de ambiente neste ano, escalando montanhas brancas e agulhas alpinas, algo tão diferente da rocha quente que estamos acostumados.
Agradeço aos amigos que nos ajudaram emprestando equipamentos, botando pilha e dando dicas: Lisete Florenzano, Nelson Barretta, Davi Marski, Alexandre Mellek, Pedro Mestriner, Fernanda Veloso, Jean Claude Razel e Marcio Bruno.
Boas escaladas pra todos vocês 🙂
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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