Hello my friend!
Hoje foi dia de limpar e lubrificar os cams. Dá um certo trabalho, pois por conta dos cursos e escaladas na gringa, onde o rack é milionário, acabei juntando umas 70 peças. Acho que a periodicidade que faço essa limpeza é anual, mas nem sempre dou o trato em todas as peças. Pego sempre os jogos que uso mais assiduamente e os outros permanecem um bom tempo sem precisar de manutenção. O trabalho consome uma manhã, mas é bom sacar uma peça do rack e ela funcionar perfeitamente. Tento ser cuidadoso com meus equipamentos. Mantenho tudo limpo, em bom estado e esse hábito tem me dá paz de espírito quando a vontade é de gritar por socorro e desejar não estar em determinadas situações nas quais eu me coloquei por livre e espontânea vontade.
Daí que eu tenho um acervo histórico também, junto de peças que eu uso com frequência. Durante o processo de lavagem, pego um friend Wild Country de haste rígida que foram os primeiros fabricados comercialmente, com certeza da década de 80. Lembro que eu o retirei de uma fenda na via Zenyatta Mondatta um VI A5 de 16 enfiadas na parede direita do El Capitan, em 1994. Junto com Antônio Carlos Meyer, fomos a primeira equipe de brasileira a escalar o El Cap, e por uma via de responsa, aberta por Jim Bridwell e considerada por muitos anos, a escalada artificial mais difícil do planeta. Demoramos 9 dias para completar a via. Passamos fome, frio, medo. Uma tempestade que teve início no quarto dia e nos forçou a ficarmos nos portaledges por 2 dias, causou o maior resgate da história de Yosemite, com 14 escaladores resgatados.
A peça é magnífica, usinagem aeronáutica e mesmo se não fosse pela revolução que os cams causaram na história da escalada, ainda assim seria digna de coleção. A tipografia do texto que grava a marca e o tamanho da peça é outro detalhe que me chama a atenção. Mas enfim, devido à haste rígida, o que limita o uso em fendas horizontais, não é um item que eu carregue no rack. A engenharia e o design evoluíram bastante nessas décadas e hoje existem peças mais eficientes e leves. Tenho alguns outros friends iguais, que eu comprei, mas esta é uma das peças que tem valor sentimental, assim como o mosquetão que ganhei do Rock Master Kurt Albert, a costura do maestro Bernd Arnold, o mosquetão pera da atriz e escaladora Sônia Braga, a corda do ás Sean Leary. Equipamentos que tem uma história e que estão por algum lugar da casa esperando para me relembrar algum momento da minha vida. Então agora que eu finalizei a limpeza das peças, vou aproveitar este final de tarde e ficar aqui no jardim com meu friend pré-histórico. Vou abrir uma cerveja e comemorar o privilégio de há mais de 35 anos ter conhecido a escalada e hoje ter histórias como esta para relembrar.
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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