Ascensão por cordas com blocantes mecânicos

Ascensão por cordas com blocantes mecânicos

Todo montanhista tem que obrigatoriamente, carregar dois pedaços de cordelete, para numa emergência poder improvisar um sistema de auto-resgate usando nós blocantes como o prussik ou o machard. Mas se você sabe que terá de subir várias cordas fixas, o sistema de nós é muito pouco eficiente – além de demorado – para ser usado em grandes paredes ou conquistas.

 

Se você irá escalar grandes paredes que exigem escalada em artificial, a dinâmica é diferente da escalada livre, pois apenas o guia irá escalar. O segundo irá limpar a enfiada usando ascensores, enquanto o guia (já na base), estará se ocupando de outras tarefas. Em conquistas, também é comum fixar cordas nos trechos já escalados, facilitando a descida para lugares mais seguros e confortáveis a noite, e o retorno pelas cordas fixas no dia seguinte para continuar os trabalhos. Ascender cordas fixas pode ser uma técnica perigosa. Você terá de confiar completamente em seu equipamento: ancoragem, corda, ascensores, cadeirinha. Portanto familiarize-se com a montangem do sistema e as diversas técnicas de ascensão, antes de entrar numa situação real, onde o aprendizado pode ser traumático. Ascensores mecânicos, mais conhecidos no Brasil como jumares, têm o sistema baseado em um came (como o do friend) e uma mola que mantendo-o tensionado, só permitirá que a corda viaje em uma direção, a de subida. É suave e fácil de usar, além de rápido. Se você ainda não tem este equipamento e está considerando comprá-lo, note que há ascensores esquerdo e direito, com acesso de corda em um lado específico. Trocá-los de mão, torna o uso bem complicado, pois ficará difícil abrir ou liberar o came.

Detalhe da conexão correta do ascensor  na  corda.  Note  o  mosquetão  que impede o escape acidental.

Detalhe da conexão correta do ascensor na corda. Note o mosquetão que impede o escape acidental.

Para ascender com eficiência, você vai precisar de dois ascensores, duas solteiras (modelos ajustáveis são os melhores) ou fitas, dois estribos, mosquetões simples e de trava.  A montagem do sistema segue a ordem: um ascensor instalado na corda para cada mão e pé (o ascendor da mão direita, usado para o pé direito), com um jumar conectado em cada estribo – e uma solteira conectada no baudrier (com nó boca de lobo) e o final da solteira conectada em cada jumar com um mosquetão de trava. A mão dominante vai no ascensor de cima. O tamanho da solteira de cima, deve ser a do seu braço ligeiramente dobrado, jamais não esticado (o que torna a ascensão trabalhosa). A solteira do ascensor inferior deve ser mais curta – alguns centímetros a menos que o comprimento do antebraço.

1. Ascensor 2. Mosquetão do estribo 3. Mosquetão da solteira 4. Mosquetão de travamen- to do ascensor a corda.

1. Ascensor
2. Mosquetão do estribo (estribo na cor preta, já conectado).
3. Mosquetão da solteira
4. Mosquetão de travamento do ascensor a corda.

Começar a subir é difícil pois a corda precisa ser esticada a fim de deslizar suavemente. A partir do segundo metro, a técnica vai parecendo mais fácil, até que você comece a dominá-la com fluidez. A dica é que enquanto estiver de pé, ainda no chão com o sistema adequadamente montado, deslize o jumar superior para cima e puxe para baixo para fazer a corda esticar tanto quanto possível. No início, você pode precisar liberar o came do ascensor inferior para deslizar melhor para cima – apenas libere o came, não o desconecte completamente da corda! Assim, fica mais fácil deslizar o ascensor inferior para cima. Repita várias vezes, até que a corda esteja esticada.

A chave para mover-se eficientemente com esta técnica é manter seu peso nos pés. Para subir o corpo, um movimento dinâmico, como o de um balanço, irá facilitar também.

Como com qualquer tipo de escalada, seus braços devem somente prendê-lo verticalmente, enquanto seus pés o impulsionarem para cima. Levante-se em seu estribo com os braços dobrados em cerca de altura do peito. Deslize o jumar superior para cima e pise para cima com a mesma perna. Agora deslize suavemente o segundo jumar para cima e force essa perna; Este é o jumar que irá manter o seu peso enquanto você move o jumar superior. Pode ser tentador puxar com o braço depois de deslizar o primeiro jumar, mas você deve se concentrar em empurrar com a perna e simplesmente guiar a parte superior do corpo com o braço. Se você está tendo problemas com isso, deve estar fazendo movimentos longos demais. Diminua o tamanho da solteira de cima e faça movimentos mais curtos. Preserve a força dos seus braços, ou você chegará exausto já na primeira parada.

Usando os dois pés no ascensor de baixo: Esta técnica é muito eficiente, e minha preferida para subir escalada negativas. Você vai instalar os dois estribos no ascensor de baixo, deixando o ascensor de cima com apenas a solteira conectada ao baudrier. O movimento de subida é como de um sapo. Pode parecer mais lento, mas não é, além de preservar as pernas, que irão trabalhar em conjunto e não separadamente como no sistema anterior.

Marcio Bruno jumareando no El Capitan. Note o back up com nó, diminuindo o tamanho da corda.

Marcio Bruno jumareando no El Capitan. Note o back up com nó, diminuindo o tamanho da corda.

Check list
Sempre encorde-se no final da corda de escalada;
Sempre use duas solteiras conectadas nos dois ascensores para que caso um falhe, o outro segure seu peso;
Faça um back up: a cada 5 metros, faça um nó oito na corda que sai do ascensor de baixo e clipe-o com um mosquetão de trava na sua cadeirinha. Suba mais 5 metros, faça outro nó, clipe-o, soltando e desfazendo em seguida o nó anterior. Fazendo isso, caso haja uma falha nos dois ascensores (!) da corda você não escapará.

Seja muito atencioso com eventuais quinas cortantes no traçado da sua corda. Uma corda tensionada e um canto afiado de rocha são uma combinação mortal.

 

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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