Travessia da Serra Fina – parte II

Travessia da Serra Fina – parte II

Vamos!

O terceiro dia começou gelado no topo da Pedra da Mina. As temperaturas despencaram abruptamente, atingindo -6 °C ainda no meio da madrugada. Dentro da barraca, o gelo se acumulava, e a sensação era uma mistura de querer que o sol surgisse logo para aquecer o mundo, com o terror de ter que sair do saco de dormir e enfrentar o frio cortante.

O amanhecer foi um espetáculo. Tudo estava congelado, e uma névoa cobria o cume até o momento em que Ana, Vitor e Orlando e eu iniciamos a caminhada rumo ao Pico dos Três Estados.

Descida da Pedra da Mina, com o Ruah a esquerda.

Logo abaixo da Mina, há uma nova trilha que contorna pela direita o vale do Ruah, atualmente interditado por questões ambientais. Essa rota alternativa acrescenta cerca de duas horas ao trajeto do dia, passando pelo Rio Verde apenas perto do final da manhã. Esse é o momento crucial para coletar água suficiente para durar até a tarde do dia seguinte, quando a travessia se encerra. A partir dali, cada um de nós seguiu carregando bastante peso.

Ana e Vitor no Rio Verde, antes do Três Estados.

A trilha está muito bem marcada e sinalizada. Não tivemos dúvidas em nenhum momento, e sequer foi necessário nos abaixar para passar com as cargueiras nos trechos de bambuzais — algo que era comum antes da APSF assumir o gerenciamento e a manutenção do caminho.

Chegamos cedo ao Pico dos Três Estados, escolhemos bons locais para montar as barracas, preparamos o jantar com calma e fomos dormir cedo. A noite foi fria, com geada, mas as temperaturas não caíram tanto quanto na madrugada anterior.

Despedida das Alturas

O dia seguinte amanheceu com o sol revelando as Agulhas Negras e as Prateleiras no Parque Nacional de Itatiaia — uma vista de tirar o fôlego.

A trilha do quarto dia já começa despencando, ahahaha. Até o Alto dos Ivos são cerca de duas horas e meia de descida, e ali temos as últimas vistas panorâmicas das grandes altitudes. Logo após o Alto, a trilha vai se fechando aos poucos, até adentrar uma pequena floresta que nos acompanha até o final da travessia e o início da estrada que leva ao posto de fiscalização.

Silueta do Pico das Agulhas Negras e Prateleiras, vistas do alto do Três Estados.

Associação de Proprietários da Serra Fina (APSF)

A Serra Fina é uma das trilhas mais icônicas e desejadas do montanhismo brasileiro. O uso excessivo, no passado, deixou o local sujo em pontos de captação de água e inseguro devido a inumeráveis corta-caminhos e bifurcações que causavam perda de tempo e desgaste de energia. Desde que a APSF assumiu a manutenção, houve uma transformação notável nesse sentido.

Achei justa a cobrança da taxa, considerando o trabalho de demarcação da trilha, sinalização dos pontos de acampamento e fiscalização do uso do shit tube. Espero que continue assim. Quando algo que antes era gratuito passa a ser pago, o mínimo que se espera é um retorno proporcional — e, neste caso, está bem equilibrado.

Dica de Alimentação

Comida de verdade da Promeal

Durante toda a travessia, consumimos refeições da Promeal e só temos elogios. Elas já vem prontas, basta adicionar um pouco de água e esquentar, portanto são práticas, saborosas e funcionaram perfeitamente para o tipo de expedição que fizemos. Recomendamos!

Proteção UV

Camisetas Ion da marca Solo são, na nossa opinião, as melhores escolhas para uso pesado. Tem proteção FPS50+, são leves, frescas, secam rápido o suor e tem tratamento anti-cheiro. Este modelo tem muitas opções de cores, manga longa ou curta e modelagem masculina e feminina.

Camiseta Ion

Barraca

Ana e eu levamos uma barraca Simond modelo Makalu, que por ser um modelo indicado para uso no gelo, segurou a bronca nas noites geladas. Essa categoria de barraca não é muito leve, mas permite o uso de saco de dormir mais leve… Tudo é questão de colocar na balança e pesar cada item, pensando em priorizar o conforto ou a leveza. Acho que esse modelo não está mais disponível no Brasil, mas existem semelhantes da mesma marca.

Barraca Makalu II da Simond – Decathlon

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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