Escalando na estepe argentina

Escalando na estepe argentina

Após escalarmos apenas duas vias em 5 dias nas Agulhas do Frey, entre tempo ruim e neve fofa demais para fazermos a aproximação das montanhas e chegarmos secos, resolvemos partir de Bariloche e tentar salvar nossa viagem primaveril à Argentina. Resolvemos seguir rumo sul, em direção da região de estepe, onde o clima é mais seco e desértico.

Piedra Parada é um imenso monólito que guarda a entrada do cânion de La Buitrera. A área ganhou fama internacional no mundo da escalada em 2012 por conta de um evento promovido por uma grande marca francesa de equipamentos. Apesar de a escalada ter tido início no local na década de 50, somente em 93 a Piedra Parada teve sua primeira ascensão. Depois deste feito histórico, escaladores argentinos mantiveram uma pequena freqüência nas atividades de conquista de novas rotas na Piedra e nas paredes do cânion. Em 2012, o cânion foi invadido por centenas de escaladores de todas as partes do mundo, deixando após o evento, dezenas de novas e bem equipadas vias.

Uma longa estrada de terra até Piedra Parada.

Uma longa estrada de terra até Piedra Parada.

É longe, inóspito e selvagem, mas tem regras.

É longe, inóspito e selvagem, mas tem regras.

O impressionante monumento natural de Piedra Parada.

O impressionante monumento natural de Piedra Parada.

A maior parte das rotas é no mais puro estilo esportivo. Boa grampeação, proteções próximas e a maior caminhada (3 km, até o final do cânion), demora menos de 1 hora. Escalamos poucas vias positivas. O que prevalece são as rotas verticais e negativas. Nada mais óbvio, pois as paredes do cânion são cheias de setores esburacados, que fazem a alegria dos que treinam em ginásio. Diversão garantida se você curte agarrões, vias de resistência, sem crux muito definidos. Em minha opinião, o melhor tour é escalar nos primeiros setores (Alero, El Gruyere) e ir adentrando o cânyon aos poucos, à medida que se acostumar com a rocha. Diversos setores tem tetos gigantes logo acima das vias, o que deve garantir manter as paredes secas mesmo nos dias de chuva. No final do cânyon, os setores La Gallinita e Calavera são bem interessantes e fecharão com chave de ouro sua tour.

Entrada do canyon de La Buitrera.

Entrada do canyon de La Buitrera.

Tetê de mort, no setor "La Calavera".

Tetê de mort, no setor “La Calavera”.

Para escalar na Piedra Parada é necessário equipamentos móveis e duas cordas de 60m para fazer o rapel do topo. Não tínhamos e não pudemos escalá-la até o topo. Para escalar no cânion, uma corda de 60m é suficiente para as vias esportivas. Leve um tapete para corda.

Ao sair para escalar, planeje-se para ficar o dia todo, levando água e comida. Não esqueça de um corta-vento, pois a brisa patagônica é constante e nas paredes com sombra, gelam os ossos.

O guia de escalada Piedra Parada y La Buitrera de Fernando Molina, é bem editado e com muitas imagens. Pode-se comprar online ou nas lojas de equipamentos de Bariloche. Há informações sobre os horários de sombra em cada setor, o que apesar de ser bem óbvio, pois a orientação do cânion é norte-sul, então as paredes estarão com sol de manhã ou à tarde. Nos dias em que escalamos lá, passamos frio e calor. Parece que a sensação térmica depende do vento e da nebulosidade do dia. A segunda edição, revisada, ainda tem erros de localização e número sugerido de costuras para determinadas vias. Portanto preste sempre muita atenção nas imagens e confira se elas condizem com a realidade, além de sempre carregar 2 ou 3 costuras a mais do que o manual sugere, evitando ficar na roubada.

Ana, perdida na parede.

Ana, perdida na parede.

Infraestrutura

O camping La Buitrera, de Mario Moncada fica bem localizado, a 700m da entrada do cânyon. É bem simples, mas tem uma área de pasto para montagem de barracas, água, banheiros, banho quente dia sim, dia não. Luz e energia elétrica somente nas primeiras horas da noite. Há uma área aberta para cozinhar, mas leve seu fogareiro e gás ou terá que cozinhar usando lenha. Pagamos 8 pesos a diária.

Vimos barracas montadas nas margens do rio Chubut, mas esse camping selvagem não é seguro e há diversas placas de “proibido acampar”. Toda a área é reserva protegida, então é melhor evitar problemas e antes de montar a barraca, certificar-se se é permitido.

Sinal de celular, internet, wifi, alimentos e gasolina, são encontrados somente na cidade de Gualjaina, distante 40km em estrada de terra. Melhor programar-se levando tudo o que for precisar e preparar-se para ficar incomunicável.

As cidades mais próximas são Bariloche (400km) ou Esquel (80km). O ideal é alugar um carro (220 pesos a diária) e assim ficar independente. O acesso via ônibus é bem restrito e só acontece em poucos dias da semana.

 

 

A área de camping fica entre as árvores, perto do rio Chubut.

A área de camping fica entre as árvores, perto do rio Chubut.

Gaúcho preparando o churrasco para a festa de 50 anos de dom Mario.

Gaúcho preparando o churrasco para a festa de 50 anos de dom Mario.

Matéria publicada no Mountain Voices # 147

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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Ana FujitaArgentina

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