Yosemite 2022 – parte II

Rogério descendo da P2 da West Face da Leaning Tower.
A segunda parte da trip à Califórnia incluía a escalada da Leaning Tower, uma das paredes mais impressionantes de Yosemite, que o Rogério Jorge já havia mirado noutra viagem.
Qualquer escalada grande no Vale exige preparo e logística. A lição de casa é treinar as diversas técnicas de ascensão artificial e limpeza com jumares. Depois vem a parte da logística de acordo com o plano, que no nosso caso seria escalar em 2 dias as 10 enfiadas que transformaríamos em 5 com uma corda grande o suficiente para unir todas as enfiadas.

Rogério limpando a quarta enfiada.
Fizemos o transporte de água e cordas até a base da West Face em um dia e o Rogério já guiou e fixou as duas primeiras enfiadas com uma corda de 70m. Dia seguinte voltamos com o restante das tralhas e partimos para cima. O trecho seguinte ficou pra mim. Como era a quinta vez que eu escalava a rota, me lembrava mais ou menos dos lances, mas como as vias de artificial mudam com frequência, pois as lacas as vezes quebram, fendas ficam lisas ou mais abertas… e os lances mudam, fui tranquilo mas sempre tem uma ou outra passagem marota para desvendar. Antes do sol bater na parede o Rogério iniciou o terceiro trecho, para fixar a corda na que seria originalmente a sexta parada. Essa deu um pouco de trabalho pro comparsa, mas as 18h00 ele estava de volta ao Guano Ledge, um platô que na outra ponta é largo o suficiente para dormirem 3 pessoas.

Rogério sainda para o terceiro trecho, que une a quinta e sexta enfiadas originais da via.

Rogério no Guano Ledge, com o sol da tarde queimando a pele.
A tarde bate sol na West Face até ele sumir no horizonte. Nessa hora você pensa que deveria ter levado 3 vezes mais água do que levou, mas aí entra o controle e você precisa segurar a onda e não se render ao calor e tomar toda a água do dia seguinte.
As queimadas que estão acontecendo todos os anos na Califórnia ajudar a aumentar a sensação de calor e ar pesado de respirar, e só no início da noite a sensação de secura melhora.

Ahwahnee ledge
A noite foi de buenas, acordamos as 04h30, preparamos tudo e antes do sol nascer por completo, estávamos jumareando a corda para a sexta parada. Os dois trechos seguintes seriam meus. Até a oitava parada não há passagens muito complicadas ou perigosas, mas a saída da parada é numa fenda bem lisa. Eu duvido sempre dos friends nesse terreno, e gosto de intercala-los com nuts quando existem colocações para elas. Uns 8 metros acima da parada, um TCU que eu havia testado bem saiu, o friend de baixo também e eu parei em uma nut #7, passando o Rogério. Ufa! Oh my God! Shit! C#$@&%! Recobrado do susto, parti pra cima agora duvidando de tudo, ahahaha.
Eu lembrava que nessa enfiada eu deveria guardar uma peças pequenas para o final e assim fui gerenciando o rack para não faltar nada. A corda chega quase no final e o bag pesa pra puxar, mesmo não enroscando em nada.

Minutos antes de tomar um vôo.
O trecho da oitava para a décima parada é bem chato para o guia linkar, pois passa por vários tetos e trechos em livre, o que juntando ao atrito da corda nos zig-zags, destrói a cintura do caboclo. Antes do meio dia, chego ao cume e logo o Rogério se junta a mim.
Iniciamos o rapel, que é pela parte de trás da montanha antes das 12h00, em uma canaleta com vários blocos e pedras soltas que exigem atenção. As 14h00 estávamos no chão. Fora o encontro com uma cascavel, a descida foi tranquila e agora, com a missão principal cumprida, poderíamos relaxar e escalar outras vias legais sem o peso que quem uma parede grande como a Leaning Tower.

Topo!
Eliseu Frechou
Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.
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