Identificação, dogmas e haters

Identificação, dogmas e haters

Ana Chata, Conjunto Pedra do Baú, meio dos anos 2000. Leonardo e seu amigo chegam na base da montanha e Leonardo, ao abrir a mochila, se deu conta de que deixou seu exemplar do Manual de Escaladas na pousada em que estavam hospedados. Mas ele havia feito a via Peter Pan alguns meses atrás e considerou-se apto para repeti-la sem o croqui. Só que ao invés de escalar na Peter Pan, Leonardo entrou na via ao lado, a Cidade Deserta que mesmo sendo do mesmo grau, é bem mais exposta e exige equipamento móvel. À duras penas, Leonardo chegou na primeira base e por não ter uma corda grande o suficiente para rapelar (nessa época muita gente ainda escalava com cordas de 40 ou 45m), decidiu continuar. Ainda perdido e mais enrascado, pois a segunda enfiada da Cidade Deserta tem apenas uma proteção fixa (no mesmo trecho a Peter Pan tem 5), Leonardo foi seguindo o traçado que lhe pareceu mais óbvio, visualizou umas chapeletas e seguiu em direção a elas. As chapeletas eram da via Justiceiro, mais à esquerda ainda, só que Leonardo no meio do caminho viu um sistema de fendas e como tinha 4 friends seguiu até elas, montou uma base com apenas dois friends e fez segurança a seu amigo. Alí, no meio de via nenhuma, o amigo sugeriu que eles descessem abandonando os friends e alcançassem uma base dupla da Justiceiro que era visível dali. Leonardo não quis abandonar as peças e achou que dali pra frente o terreno era fácil e ele chegaria a Cresta da Ana Chata rapidamente. Só que quem conhece essa faixa central da Ana Chata sabe que não é assim. Leonardo começou a guiar, não conseguiu colocar nenhuma proteção e a 15m da base, por algum motivo, caiu. A queda foi de fator 2, o amigo segurou a corda, um dos friends colapsou no impacto e o segundo só não foi arrancado também porque a corda de Leonardo entrou em uma laca que a travou a ponto de desfiar a capa, servindo como freio. Leonardo faleceu decorrente de traumatismo craniano, apesar de estar de capacete. Fiz o resgate do amigo em estado de choque e do corpo, junto com o Maurício, Sargento Marco Antônio, Sundara e João Alberto. Os relatos do acontecido estão registrados no Boletim de Ocorrência resultante da investigação do caso.

O óbito de Leonardo foi o primeiro fatal, que me lembro, causado por um erro no qual a identificação pudesse evitar.

 

Dogmas

Dogma é qualquer doutrina (filosófica, política, religiosa, esportiva…) de caráter indiscutível. Nascemos ouvindo verdades indiscutíveis. “Não porque não” dizem os doutrinadores. Até que a pessoa cresce e começa a se perguntar do porque de ter que comer quiabo, ter que vestir aquela roupa, ter que ter uma ou outra atitude que não gosta. Em geral os dogmas funcionam muito melhor quando incutidos em pessoas que não gostam de pensar, “arranjar confusão” ou estão confortáveis com a situação ou se beneficiam dela. Também de maneira geral, os dogmas começam a ser combatidos assim que a criança começa a questionar e argumentar. “Não porque não, não é resposta” dizia Marcelo Taz num quadro do programa infantil Castelo Rátimbum.

Porém, a quebra de dogmas é essencial para a evolução da humanidade.

Sinalizar vias de escalada é um dogma ultrapassado pela primeira vez, décadas atrás, nos setores esportivos da Europa. No Brasil, de forma tímida, algumas ações já estão sendo colocadas em prática, então há a necessidade de conversarmos a respeito, por que é essencial sinalizar.

 

A identificação e os haters

Semana passada iniciamos uma discussão e movimentação, chamando os principais conquistadores e equipadores ativos de vias do Brasil, para que possamos melhorar a experiência das pessoas nas falésias em relação à sinalização para que os visitantes não fiquem com a terrível sensação de “aonde eu estou?” quando chegam pela primeira vez num lugar, como não se metam em roubadas ou acidentes.

Lógico que ninguém imaginava ser esta uma tarefa simples. E nem que teria uma solução do agrado geral, mas de minha parte também não imaginaria uma oposição tão despreparada e sem argumentação inteligente.

Os principais comentários foram:

Eu não gostei” – uma pessoa adulta, já deveria ter entendido que o mundo não gira em torno do que ela gosta. Sabe a primeira lei patagônica “deu a ideia, faça”? Pois então, não dá pra pessoa não gostar de algo, e exigir que a outra resolva de graça a questão de uma forma que ela esteja de acordo. Aqui ainda há outro ponto importante: estamos sugerindo que a sinalização seja colocada pelos respectivos conquistadores e equipadores das vias, de forma legítima. Então, se a via não é da pessoa, ela sequer tem que dar pitaco, o autor da via decide, e pronto.

Assim a evolução da e$calada tá garantida. Pela $egurança de todos” – não entendi como alguém possa tirar algum proveito financeiro ao sinalizar uma falésia. Perguntei e não obtive resposta.

Prefiro me adaptar ao meio do que adaptar o meio a mim” – comentário hipócrita de quem quer dar lição de moral sem olhar para as atitudes próprias. Como dizia minha avó: “fala do rabo feio do outro, mas senta em cima do próprio pra esconder a feiura” Seguindo o raciocínio dessa pessoa, imagino que ela more numa caverna, não use carro, plante ou colha tudo o que come e levite pelas paredes sem derrubar vegetação, quebrar agarras, sem magnésio ou grampos. Realmente um ser superior.

Logo vamos por plaquinha nos boulders.. no crux da via… umas câmeras no setor, eu que não sou escalador também posso rabiscar meu nome bem grande na pedra.” – comentário digno do Cavaleiro do Apocalipse, querendo montar um cenário catastrófico imaginário, espalhando o pânico e assim finalizar a discussão.

Eliseu era um bigwalista… agora é um prezepeiro, está fazendo cagad@” – esse aí postou um vídeo queimando uma foto minha. Chorei de rir. Lembrei dos inquisitores queimando bruxas, gente desequilibrada. Amigo, arranje outro super-herói. E deixe de me seguir se não consegue repensar a escalada, não suporta ou aceita opiniões contrárias, não tem QI suficiente para argumentar de forma adulta e construtiva. Enquanto tiver forças, vou confrontar situações que eu considerar injustas e lutar para incentivar práticas corretas que favorecem o coletivo e tornem o montanhismo e a escalada mais inclusiva. Já briguei por que em 1990 achavam que eu não tinha o direito de conquistar a parede norte do Bauzinho; porque eu resolvi ser profissional num esporte que deveria se manter amador; porque brasileiros não podiam fazer a segunda repetição de um A5 no El Capitan; porque eu usava parabolts ao invés de P; porque eu colava agarras soltas na falésia dos Olhos, e é por conta dessa técnica que um dos points mais alucinantes da escalada esportiva brasileira existe hoje… e por aí vai. Enfrentar ideias atrasadas faz parte da minha personalidade. Estou com 53 anos e transito com naturalidade dos boulders às grandes paredes. Sento-me nas falésias para conversar com jovens mais novos que meus filhos e aprendo com eles. Vivo de ensinar, pois sou aberto a aprender.

Blasfêmia” – Oi? Ri de novo e lembrei da foto queimada.

Se alguém não sabe se orientar e precisa de plaquinha, nem deveria estar lá” –  sabe o efeito Dunning-Kruger? Explico abaixo.

 

Os haters e o efeito Dunning-Kruger

O efeito Dunning-Kruger é um viés cognitivo no qual as pessoas superestimam erroneamente seu conhecimento ou habilidade em uma área específica. Isso tende a ocorrer porque a falta de autoconsciência os impede de avaliar com precisão suas próprias habilidades. Sintetizando, gente que tem auto-estima elevada, e acha que os outros são inferiores. Na escalada, esse viés geralmente acontece quando a pessoa afetada está na sua zona de conforto, na falésia, na mesa de bar, atrás do computador, todo corajoso.

Em uma semana de discussão, nenhuma proposta prática foi apresentada pelos opositores à sinalização. O placar de 86% a favor da sinalização, versus 14% contra ficou estranho, pois a minoria sequer conseguiu argumentar seus pontos de vista com clareza e sem xingamentos. Só repetem dogmas ultrapassados. Bloqueei três pessoas por não terem a mínima maturidade emocional para discutirem o tema sem ofensas.

 

O problema não é que as pessoas tenham opinião. Isso é ótimo. O drama é que as pessoas tenham opiniões sem saber do que falam
José Saramago.

Numa rápida visita pelo perfil dos opositores à melhor sinalização, me pareceram pessoas que sequer frequentam o ambiente ao qual estamos falando: falésias com adensamento de vias ou lugares de difícil distinção de relevo. Elas só escalam um estilo e sempre numa área específica. Assim, estão falando e querendo impor regras em lugares que não conhecem, imaginando serem iguais a outros. A escalada é bem diversa, mas há pessoas que só a vêem sob uma ótica bastante restrita. Simplesmente imaginam um cenário, uma falésia, sem realmente a conhecerem e sentirem o problema do qual estamos tratando.

A maioria dos opositores da sinalização, teimam e insistem sistematicamente no tema “não queremos nas montanhas” Em nenhum momento falei em montanhas, apesar de o acidente do Leonardo mostrar que em alguns lugares seria muito importante. Mas não é tema neste momento.

Leia também o primeiro texto sobre o assunto: Sinalização de vias de escalada – Demandas e soluções

Se tiver algum comentário, por favor deixe abaixo.

ATUALIZAÇÃO 11 DE NOVEMBRO 2021: https://eliseufrechou.com.br/identificacao-de-vias-orientacao-cbme/ 

Eliseu Frechou

Eliseu Frechou

Guia de montanha e instrutor de escalada. Iniciou no esporte em 1983 e desde então se dedica ao montanhismo e à escalada tempo integral atuando em diversos segmentos, mas principalmente na organização de expedições, produção de documentários e filmes.


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29 comments

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  1. Eliseu Frechou
    Eliseu Frechou Author 12 novembro, 2021, 13:10

    A CBME acaba de publicar as diretrizes para identificação de vias esportivas. Parabéns à entidade que abriu espaço para a discussão e aos envolvido no Grupo de Trabalhos, que souberam de maneira equilibrada, pruduzir um documento para orientar a comunidade no caminho para uma escalada mais inclusiva e sem dogmas ultrapassados.
    http://www.cbme.org.br/novo/uncategorized/boas-praticas-para-identificacao-de-vias-de-escalada-esportiva/

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  2. Fabio Sato
    Fabio Sato 3 novembro, 2021, 16:01

    Entendo que por se tornar um esporte olímpico, a escalada passará a atrair mais pessoas, porém que não encaram como um aventura, mas como uma atividade esportiva, como ir jogar bola.
    Em alguns setores aqui no RS, estão sendo colocadas pedras com o nome e grau da via, ajuda muito na orientação.
    Pessoalmente acho que o impacto visual é menor que as placas, mas entendo que em locais como o Corujas, já escalei lá, não tem como.

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  3. Pedro Peron
    Pedro Peron 7 julho, 2021, 20:20

    Boa tarde, Eliseu. Chego um pouco tarde na discussão, mas gostaria de dar minha contribuição. Perdi a parte dela que ocorreu pelas redes sociais, por isso perdoe se eu estiver chovendo no molhado.
    Acho a motivação para identificação de vias mais que louvável, sobretudo levando em consideração a história contada no início do teu texto. E usando ela como gancho, venho dar a minha opinião: os riscos relacionados à falha de identificação da via são MUITO maiores quando se trata de vias longas / tradicionais, você deve concordar comigo. Assim sendo, por que priorizar a identificação em setores com alta densidade de vias esportivas (e de pessoas conhecedoras)? Uma foto não deveria bastar?
    Gosto da ideia de plaquinhas, mas defendo que sejam de preferência “orgânicas”, de pedra, com o nome pintado, a exemplo do que se faz em Arcos – MG. E que não precisam ser exaustivas, mas que sejam um complemento ao croqui. Uma aqui, outra ali já resolveriam o problema (o croqui continua sendo imprescindível para todo outro tipo de informação: grau, comprimento, número de costuras). Isso visaria a minimizar tanto o esforço do “plaqueiro” quanto o impacto visual.
    E por falar em impacto, acredito também que o impacto seria muito menor nas vias de parede do complexo do Baú. Pelo fato de as vias serem mais esparsas, muitas vezes fora da trilha principal (e quase sempre longe de trilhas frequentadas por não-escaladores). Não faria mais sentido, portanto, tanto do ponto de vista de segurança quanto do ponto de vista de impacto, que identificássemos prioritariamente as vias no Baú?

    Eu comecei um tempo atrás um esforço para identificar as vias no complexo, coletando coordenadas GPS das bases e fotos das saídas. Com isso e um bom croqui, plaquinhas seriam desnecessárias. Se interessar, você pode ver o que tenho até o momento aqui: https://bit.ly/EscaladaSBS_Apresentacao
    Estou conclamando pessoas a ajudarem nesse esforço. Se você quiser e puder contribuir, eu e toda a comunidade escaladora de SBS ficaríamos muito gratos.
    Um abraço

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  4. Magnus
    Magnus 26 maio, 2021, 02:35

    Super válido. Sem impacto, fica bem legal. Quem lembra, na Serrado Lenheiro em São João dele Rei. O EB pintava as vias e identificava- as no curso de montanha. Aqui também a gente seguiu essa linha para cursos, mas aí veio a ideia de vias com menos impacto e tal, abandonou- se a idéia. Isso lá nos anos 80 e poucos mas a ideia da chapinha é bem legal.

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  5. PEDRO E S M ARAGAO
    PEDRO E S M ARAGAO 24 maio, 2021, 07:37

    Eliseu já foi na fase sul do sino! Já fez terra de gigantes! E hoje faz plaquinhas para suas vidas de escaladas esportivas!
    Horrorosas as plaquinhas! Mal gosto do início ao fim!

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 24 maio, 2021, 10:45

      Pedro Aragão,
      Seu comentário é mais um da série “ataques pessoais que nada acrescentam ao tema”. Se você escala há mais de 3 meses, deveria já ter a mínima noção de que não se pode comparar a via Terra de Gigantes com uma via esportiva. São ambientes e modalidades diferentes, assim como, em geral, são pessoas de diferentes gostos que preferem uma ou outra modalidade para evoluírem. Ter feito centenas de vias em artificial, tradicionais ou esportivas, não me fazem um escalador melhor do que outro que prefere uma modalidade apenas. Ao contrário, me fez enxergar que todas as modalidades são legais. Há pessoas interessadas em apenas se divertirem nas falésias e nas montanhas, e 99% não tem o mínimo interesse em escalar a Pedra do Sino, mas mesmo assim tem o direito de se divertirem na escalada.
      Este fórum está sendo usado por pessoas que buscam encontrar uma forma harmoniosa de melhorar a experiência das pessoas que visitam e frequentam falésias esportivas. Não estamos falando de montanhas. Se você tiver uma contribuição, a faça sem ataques. Se não tiver, é mais educado nem postar esse tipo de comentário acima, que só faz com que os leitores imaginem que você sequer tem noção da diferença entre a Pedra do Sino e uma falésia esportiva. Uma pena que tenha perdido sua oportunidade de pronunciamento desta forma.

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  6. Leizer
    Leizer 27 abril, 2021, 20:37

    Já passei por poucas e boas procurando sem sucesso o início de vias em falésias, e olha que tinha guias na mão, e alguns locais por perto. Explico: escalando n em Swanage, sul da Inglaterra, vi uma vias legal de um 6 sup que iniciava pela descrição em um “centry box”. Visualizei todos os arredores e não vi nada que parecesse com a descrição… perguntei a alguns locais e eles ficaram em dúvida também. Como eu iria embora no dia seguinte, decidi procurar alguma linha com boas agarras e mandei pra cima… por sorte minha leitura era ok e não me meu em uma grande e prosaica enrascada! Frustração por não ter escalado uma via que eu gostaria de ter feito talvez na única oportunidade que teria (duvido que eu volte para lá tão cedo). Mais aqui perto, na Falésia do Garcia, em Campinas, apesar de haver disponível na internet croquis fotográficos, confesso que é bem difícil descobrir exatamente a via procurada… se não houver alguém lá, o visitante ocasional fica perdido e seu aproveitamento daquele dia cheio de vias fica pela metade do de tentar achar aquele grau desejado. Pode me contabilizar a favor das plaquinhas… de madeira talvez? Gostei da sugestão do grau também, talvez nome dos conquistadores e ano … sei lá!!!!

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  7. Zoro
    Zoro 24 abril, 2021, 01:17

    Eliseu; uma pena mesmo q vc usa os comentários de quem não concorda com seus princípios.
    Cria polêmicas para expor as idéia de quem é contra seu pensamento, rebaixando quem esta contra e ovacionando quem esta a seu favor. Esperava mais de vc, que pudesse realmente escutar, e tentar entender um pouco do outro lado, do q a doutrina (dogma) q vc esta impondo…a única solução viável é a sua.

    Acontece muito do que escrevemos é mal interpretado e a própria plataforma não ajuda para um dialogo mais fluido e aberto. Mas tento deixar minhas impressões ao esporte, e seus comentários sobre; são rebaixando e pejorativos .
    Vejo nos comentários a grande maioria é a favor das placas; não poderia ser diferente, obvio. A escalada esta crescendo e recém chegados formadores de opinião estão proliferando, e aqueles q de uma ou outra forma estão ligados ao “bussines” da escalada, querem mais q esses números se inflem….com toda razão. E ajudam a engrossar o seu caldo.

    Mas enfim, qual é seu público alvo, aqueles q vc julga ajudar com suas plaquinhas??
    O q não consegue chegar em uma falésia e identificar uma via de 5 ou 9, q não enxerga o tamanho das agarras, a inclinação da parede? não conversa com “estranhos” , tem medo de se comunicar, pesquisar?
    Q não tem o mínimo de preparo para usar um clipstick de até 4mts ?.. vai escalar 9, achando q esta no 4grau? Na falésia cheia de gente vendo e informada sobre as vias…horas, são vias q existem a mais de 30 anos quase.
    A sim, ainda assim vai entrar na via errada, se machucar….e causar acidente sem conheçer o mínimo do minimo do mínimo; claro q vai acontecer, não tinha plaquinha.

    Imagine a hora q esse mesmo individuo for tentar esclarecer uma via tradicional, onde vai estar o repertório de leitura; de alerta, de visualização? O clipstick?
    Vai ter mais fatalidade das mesmas que vc mesmo mencionou na Ana Chata, (nåo querendo ser o cavaleiro do apocalipse ) e terminou tristemente em uma fatalidade, (apocalipse)… quantos mais precisamos?
    Vc quer uma geração de escaladores mimados, q só chega na falésia de GPS e só escala nas vias marcadas com plaquinhas, as agarras marcadas, e tutorial no YouTube? Clipstick tbm.

    Entrar na via errada faz parte do aprendizado do escalador, amadurece o sentido, volta com mais infos, procura quem já conhece , contrata um guia….faz parte, quem nunca passou por isso?.
    A segurança tem q ser a prioridade, é obvio ; até pq na hora de resgatar quem vai lá?. Vai chamar o dono da plaquinha q sinalizou o caminho errado?
    Enfim; sinceramente eu acho um retrocesso, tanto para a escalada como para os escaladores..e se for caso de ter q sinalizar o setor, por ser novo, sem croquis……sugiro fazer foto croqui, é muito mais simples (mínimo impacto parece q já era), caso da Divisa MG, (tem croqui?) coloca com um prazo de validade ….2 anos ou até sair croqui…faz em PDF gratuito; digital; como vemos em muitos setores hj em dia. Não ha limite para a criação …essas plaquinhas militares parece mais uma demarcação de guerra, politica, cheia de autoridade.

    Esse da Sika 9a??? é completamente desnecessário , quantos escaladores tem nos Olhos aos finais de semana? de semana, videos, croquis, fotos, relatos.. em uma googlada vc tem mais de 40 fotos da via, videos…. já fiz croquis com fotos a 15 anos atras e até hj funciona perfeitamente, inclusive com a nova geração de escaladores q nunca foram ao lugar. Hj em dia da até para fazer em 3D, com drones, realidade aumentada, QR code e o capeta…quem não usa celular hj em dia?? Se não usa já sabe o mundo q os separa.

    Enfim; acho q nunca nos conversamos pessoalmente; sempre te admirei pelo empenho q vc dá na escalada e pelo escalador q vc é, tenho certeza q sua capacidade é muito maior. Mostra o escalador q realmente vc é, um cara q já fez muita historia bacana e q deve continuar fazendo, grandes escaladas e sempre motivado.
    Espero contribuir de alguma forma nesse textão todo, nem deveria estar me envolvendo muito nisso..mas de verdade ainda acredito q as montanhas devem ser preservadas e a própria escalada em si já é degradante, logo o q der para deixar ela natural, do jeito q sempre foi a bilhões de anos, tem q priorizar sempre.
    Bons ventos

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 24 abril, 2021, 11:38

      Prezado Zoro,
      O montanhismo evolui a passos largos em técnica, equipamentos, condutas e pensamentos. Os questionamentos que me faz (croquis, internet, sugerir pessoas com foco nas vias esportivas a treinar para quando entrarem em vias tradicionais…), já estão respondidos e não cabe redundância. Usei seus comentários como exemplo, pois eles estão lá: públicos e devidamente assinados por você.

      Quanto a cobrança pessoal que algumas poucas pessoas (de um mesmo círculo de amizades e que pensam da mesma forma) estão me fazendo, respondo: em 36 anos de escalada, sempre me reciclei e repensei a escalada de acordo com a época. Desconstruir dogmas constantemente não é fácil nem indolor. Permanecer imutável nunca foi minha opção. Preferir o bem estar alheio em detrimento ao seu máximo e único prazer, pode ser uma experiência muito legal, Zoro.

      Mais uma vez lhe digo que: estou aqui chamando as pessoas para refletirem sobre um tema que na minha opinião é urgente ser discutido; não sou pai da matéria (sinalização de vias são prática normal em falésias de todo o mundo); não estou impondo nada a ninguém (o autor da via que decida o que deve fazer); estou aconselhando cada comunidade a pensar o que for melhor no seu local – se optar por sinalizar. Quem está querendo impor uma ditadura tradicional, embasada em uma forma atrasada de pensar a escalada, são os opositores da sinalização.

      Zoro, suas vias estão seguras, – e de minha parte não tenho o menor interesse em sinalizar minhas conquistas em montanha, que é outro terreno e outra ética. E por falar em ética, aqui no Baú partiu justamente de escaladores ditos puristas, violências e intervenções vergonhosas, como retiradas de chapeletas em vias conquistadas nos anos 80 cujos conquistadores exprimiram a vontade de que elas permanecessem como originalmente conquistadas para manter o registro histórico, retiraram chapas de vias autorizadas pelo clube do conquistador, amassaram chapas minhas na V de Vingança. Tudo isso na surdina, o que mostra a covardia do ato.

      A Divisa MG teve na sua inauguração, um croqui que fizemos a custo próprio, e tiragem de 1000 exemplares (já esgotados), mas em dois anos apareceram 12 vias novas. Existem mais 3 setores e no mínimo mais 1o vias. Sabe a lei patagônica “deu a idéia, faça”? Posso te mandar o valor para você patrocinar um novo croqui da Divisa, dos Olhos…? Hoje, apenas nos 3 setores na parte central da parede da Divisa MG há 30 vias e mais de 350 chapeletas. Apenas 6 plaquinhas de identificação foram instaladas. Se são as 6 chapinhas o que irão te incomodar no setor, que irão atrapalhar a sua escalada, você tem TOC.

      Por favor, faça um exercício simples se tiver a condição: escolha uma pessoa completamente leiga no assunto escalada. Explique a ela de uma forma mais objetiva o modo como uma via é feita: o escalador chega embaixo da rocha, começa a subir, joga agarras soltas para baixo, instala um grampo, sobe mais e alcança uma fenda, joga a vegetação da fenda para baixo, coloca uma peça, sobe mais e joga os blocos soltos para baixo, passa a mão no magnésio e mata os líquens das agarras, coloca outro grampo… depois de feito trabalho todo, pergunte a pessoa se ela acha correto identificar a via para que ela se diferencia de outras do lado. Faça isso sem carga emocional, sem paixão, de modo simples e terá a resposta mais pura possível, de quem é livre de dogmas e doutrinas.

      A sua declaração: “essas plaquinhas militares parece mais uma demarcação de guerra, politica, cheia de autoridade.” assim como: “plaquetas militares e atualmente no contexto do nosso país, os milicos representam o que há de mais atrasado em diferentes aspectos. Eu entraria em uma via com plaqueta com uma repugna e asco da mesma.” deixada aqui pelo Bruno Matta, são extremamente preconceituosas. Existem pessoas boas e ruins em qualquer atividade humana. Militares que abusaram na Ditadura obviamente que precisam ser punidos, assim como aqueles envolvidos em situações de violência autoritária e desmedida. Mas é inteligente separar o joio do trigo, ao invés de simplificar de maneira infantil e desrespeitosa profissionais que ajudam a nossa comunidade. Sempre tivemos um grande e amistoso diálogo, apoio e sincronia com as Polícias, Bombeiros, COE… de nossa região, trabalhando em conjunto nos resgates de escaladores (muitos) e treinamentos. Militares estão envolvidos em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e em programas de saúde e atenção humanitária nas partes do nosso país (e mesmo fora dele, o que nos dá orgulho) onde ninguém quer ou consegue chegar. Ainda: nem toda vez que olho uma colher eu penso em sopa. Se toda vez que você olha uma placa metálica, pensa em militar, talvez seja mais um problema pessoal do que uma questão de interesse público.

      Zoro, acaba aqui nossa conversa. Você já apavorou no Instagram e obteve meu tempo demais com suas declarações preconceituosas, as quais respondi aqui até de maneira redundante, com educação. Reflita mais antes de comentar, e tente fazê-lo de maneira menos infeliz.

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  8. CiObRiFa
    CiObRiFa 23 abril, 2021, 16:19

    Parabéns Eliseu, realmente essa sinalização é de suma importância , principalmente em lugares onde se tem muitas vias abertas e para os escaladores que desconhecem o local, até mesmo os mais experientes, isso ajuda e muito a evitar acidentes…
    O desafio nunca vai deixar de existir…
    Evolução do esporte sempre!!!
    Tmj

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  9. Fabiano Santos
    Fabiano Santos 23 abril, 2021, 01:17

    Boa reflexão Eliseu!

    Mas fiquei com uma dúvida, usando o exemplo que você colocou do acidente fatal na via Peter Pan, como fica quando um escalador se perder no meio da parede. Existem vias que por ser exposta, no meio delas, sempre bate aquela dúvida por onde ir.

    Qual seria a solução para esses trechos duvidosos no meio da via?

    Grande abraço e bons ventos!

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 23 abril, 2021, 10:08

      Oi Fabiano, a questão da navegação na parede ainda é um dos desafios de quem faz guias. Nem sempre a escala ou as características da rocha de quem desenha o croqui, são interpretados da mesma forma por quem está lendo. E ainda há a diferença de julgamento: o conquistador fez o lance levemente à esquerda, mas o repetidor resolve seguir aquela agarra boa que está em linha reta, e a confusão está feita. Ainda temos o que avançar nessa questão também. Obrigado pela contribuição.

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  10. Erich Blagay
    Erich Blagay 22 abril, 2021, 23:53

    Grande tema Eliseu!

    Muito louco a necessidade de uma discussão dessas num mundo que se fala por msg de whatsapp né?- identificação de via com proteção fixa devia ser padrão. Rua sem nome, casa sem número, estrada sem placa – ter tem, mas não funciona tão bem.

    Purismos à parte é uma questão de segurança: entrei em via errada algumas vezes e em 2 delas não me ferrei por pura sorte e alguma capacidade de improvisar.

    Numa delas, em Afonso Claudio – ES, eu e a esposa fizemos 7 cordadas até acabar do nada em proteção única.

    Itatiaia, via de aderência na Pedra do Altar, rapel na fita amarrada no P enferrujado que só tava o pino.

    Entre ter uma história de vacilo para contar pros filhos e perder uma vida, a plaquinha pode ser a diferença.

    A sinalização mínima democratiza o esporte.

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 23 abril, 2021, 10:04

      Erich, muitíssimo obrigado por compartilhar e pela clareza no entendimento da questão. Temos carência de relatos como o seu. Boas escaladas.

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  11. Moe
    Moe 22 abril, 2021, 22:10

    Sou totalmente a favor da identificação das vias, essa evolução tem q ser difundido e aplicada! Precisando de qqr ajuda pode chamar!

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  12. Flavia
    Flavia 22 abril, 2021, 21:27

    Fui escalar em El Chorro em 2017, eu tinha o guia da RocFax, excelente qualidade.
    El Chorro, apesar de ser pico antigo, vem recebendo vias novas recentementes. Eu queria fazer a Lluvia de Meteoros, não estava no guia, no excelente guia. Mas tinha bastante informação na internet, várias fotos e dicas. Imprimi tudo, li tudo 10 vezes e cheguei na base. Subi 30m a as chapas sumiram. Chamei a parceira, ela tb nao achou chapa. Descemos, frutradas, fizemos uma segunda varredura no local e 50 da via estava lá, escrito na parede “lluvia”, todo tosco, pintado de tinta. Mas tava lá. Sucesso, fizemos 3 enfiadas e descemos pq já tinhamos perdido muito tempo e tava ficando tarde.
    1 ano depois voltamos ao local e fizemos a via toda.

    só uma história, verídica, para a pessoas entenderem…

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 22 abril, 2021, 22:06

      Obrigado por compartilhar sua experiência, Flavia. Eu já me perdi ou demorei para achar vias muitas vezes, é desagradável e perigoso – apesar de muito fácil de resolver com a simples boa vontade.

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  13. Inacio
    Inacio 22 abril, 2021, 19:57

    Gostei deste post, mais uma vez parabéns. Primeiro por saber que a história que eu ouvi do acidente do escalador que era daqui de Guaratinguetá ou Aparecida está relatada exatamente da forma como me contaram assim que eu comecei a escalar, eu nao tinha certeza se era ou não verdade.
    Segundo porque este post mostra as evidências de pessoas desperziveis que são “pseudo-conquistadores” que conquistam vias somente para si, (não fazem croquis, não divulgam, não sabem ou não querem proteger.., e depois se alguem vai lá e sem saber que existia, conquista, protege e compartilha, os malditos aparecem pra meter o pau em quem o fez). Isso eu acho absurdo, é uma atitude tão egoista como construir uma estrada em meio a uma floresta somente para o próprio carro, ou seja, insustentável sob todos os pontos de vista, a não ser do própiro “conquistador”. Felizmente sua estatística mostra que estes idiotas são minoria. Se você vai interferir em uma rocha, faça-o em nome da evolução da humanidade, eu acredito que escalar contribui par evolução da humanidade, conquiste pensando nos outros humanos.

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 22 abril, 2021, 21:16

      Mestre, você é mestre mesmo. Legal ter Xerifes como você e o Inácio aí no Vale, para que a evolução aconteça, e a escalada não fique estagnada e reservada a minorias superiores. Abração.

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  14. Jonas Palmeira
    Jonas Palmeira 22 abril, 2021, 18:11

    Quanto menos sinalização, maior a necessidade de contratar um guia. Para mim essa é a maior justificativa real daqueles que são contra a sinalização das vias de escalada ou trilhas de longa duração. Em uma via que possui 30 proteções fixas, dizer que uma placa de metal de 5cm irá sujar a rocha é no mínimo hipocrisia. Provavelmente usaria outro tipo de sinalização, mas é bem fácil falar isso sentado na frente de um computador sem colocar a mão em uma rocha desde que começou a quarentena e sem a expectativa de ajudar no projeto.

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  15. Rafael
    Rafael 22 abril, 2021, 17:55

    Oi Eliseu. Acho muito relevante a identificação nas falésias, principalmente se forem muito frequentadas e com concentração alta de vias.

    Já vi escalador se machucar quando entrou em um 8b pensando que estava entrando na via ao lado que era um 7a. Ter uma referencia é importante.

    Entendo que sempre vai ter alguém discordando, mas falar é sempre muito fácil. Eu gostaria que ver quem critica fazendo uma proposta ou discutindo junto pra encontrar uma solução.

    Acho que a forma de identificar pode ser definida entre os conquistadores locais. Achei a ideia da plaquinha interessante por ser durável.

    Em um setor aqui, nós escrevemos os nomes em pedrinhas que ficam na saída da via, foi uma solução pra ajudar quem vem de fora. Algumas pedras se perderam, mas como a maioria estava indicada ainda ficava fácil encontrar a vias que queria escalar.

    Vendo a foto da plaquinha pronta, só me atentei pelo cuidado de por a graduação. Vias novas podem mudar de grau depois de algumas cadenas (não é o caso da Sika, que ja tem o grau consolidado).

    Parabéns pelo trabalho! Não é fácil manter um setor e não é todo mundo que tem esse comprometimento.

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 22 abril, 2021, 21:18

      Obrigado pelo contribuição e considerações, Rafael. A evolução só acontece quando a comunidade quer e apoia. Cada comentário aqui é uma ajuda inestimável para criação da cultura de uma escalada mais inclusiva e segura.

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  16. Tite Simões
    Tite Simões 22 abril, 2021, 16:46

    Parabéns pelo trabalho. Eu sempre me perguntei porque não tinha os nomes das vias na base. Quanto aos haters, isso é reflexo do acesso à informação de baixa qualidade. Um grande desafio da era moderna é que os idiotas têm cada vez mais certezas e os sábios cada vez mais dúvidas!
    Obrigado por tirar um peso da minhas costas: eu me achava meio topeira por acreditar na sinalização das vias!

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    • Eliseu Frechou
      Eliseu Frechou Author 22 abril, 2021, 21:21

      Ahahaha! Tite, precisamos armar uma escalada, meu camarada. E comemorar nosso niver, mesmo que atrasado. Quanto aos haters, é gente que se consome por conta própria, mas apesar da perturbação e dislexia nos pensamentos, escrevem pérolas que nos dão combustível para muitas risadas.

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  17. Rubens
    Rubens 22 abril, 2021, 16:03

    Parabéns…se precisar de ajuda, tô por aqui

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  18. Tacio Philip
    Tacio Philip 22 abril, 2021, 15:26

    Culturas evoluem com o tempo. Quando o ato de escalar deixar de ser um ato cultural, talvez se voltasse a ser uma necessidade para coletar uma fruta para comer, ai talvez faça sentido querer deixar tudo estagnado “como sempre foi”. Fico feliz de escalar sem precisar estar fugindo de leopardos, só por uma questão cultural mesmo.

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