Escalando na estepe argentina

by Eliseu Frechou | 29 de fevereiro de 2016 20:51

Após escalarmos apenas duas vias em 5 dias nas Agulhas do Frey, entre tempo ruim e neve fofa demais para fazermos a aproximação das montanhas e chegarmos secos, resolvemos partir de Bariloche e tentar salvar nossa viagem primaveril à Argentina. Resolvemos seguir rumo sul, em direção da região de estepe, onde o clima é mais seco e desértico.

Piedra Parada é um imenso monólito que guarda a entrada do cânion de La Buitrera. A área ganhou fama internacional no mundo da escalada em 2012 por conta de um evento promovido por uma grande marca francesa de equipamentos. Apesar de a escalada ter tido início no local na década de 50, somente em 93 a Piedra Parada teve sua primeira ascensão. Depois deste feito histórico, escaladores argentinos mantiveram uma pequena freqüência nas atividades de conquista de novas rotas na Piedra e nas paredes do cânion. Em 2012, o cânion foi invadido por centenas de escaladores de todas as partes do mundo, deixando após o evento, dezenas de novas e bem equipadas vias.

Uma longa estrada de terra até Piedra Parada.[1]

Uma longa estrada de terra até Piedra Parada.

É longe, inóspito e selvagem, mas tem regras. [2]

É longe, inóspito e selvagem, mas tem regras.

O impressionante monumento natural de Piedra Parada.[3]

O impressionante monumento natural de Piedra Parada.

A maior parte das rotas é no mais puro estilo esportivo. Boa grampeação, proteções próximas e a maior caminhada (3 km, até o final do cânion), demora menos de 1 hora. Escalamos poucas vias positivas. O que prevalece são as rotas verticais e negativas. Nada mais óbvio, pois as paredes do cânion são cheias de setores esburacados, que fazem a alegria dos que treinam em ginásio. Diversão garantida se você curte agarrões, vias de resistência, sem crux muito definidos. Em minha opinião, o melhor tour é escalar nos primeiros setores (Alero, El Gruyere) e ir adentrando o cânyon aos poucos, à medida que se acostumar com a rocha. Diversos setores tem tetos gigantes logo acima das vias, o que deve garantir manter as paredes secas mesmo nos dias de chuva. No final do cânyon, os setores La Gallinita e Calavera são bem interessantes e fecharão com chave de ouro sua tour.

Entrada do canyon de La Buitrera.[4]

Entrada do canyon de La Buitrera.

Tetê de mort, no setor "La Calavera".[5]

Tetê de mort, no setor “La Calavera”.

Para escalar na Piedra Parada é necessário equipamentos móveis e duas cordas de 60m para fazer o rapel do topo. Não tínhamos e não pudemos escalá-la até o topo. Para escalar no cânion, uma corda de 60m é suficiente para as vias esportivas. Leve um tapete para corda.

Ao sair para escalar, planeje-se para ficar o dia todo, levando água e comida. Não esqueça de um corta-vento, pois a brisa patagônica é constante e nas paredes com sombra, gelam os ossos.

O guia de escalada Piedra Parada y La Buitrera de Fernando Molina, é bem editado e com muitas imagens. Pode-se comprar online ou nas lojas de equipamentos de Bariloche. Há informações sobre os horários de sombra em cada setor, o que apesar de ser bem óbvio, pois a orientação do cânion é norte-sul, então as paredes estarão com sol de manhã ou à tarde. Nos dias em que escalamos lá, passamos frio e calor. Parece que a sensação térmica depende do vento e da nebulosidade do dia. A segunda edição, revisada, ainda tem erros de localização e número sugerido de costuras para determinadas vias. Portanto preste sempre muita atenção nas imagens e confira se elas condizem com a realidade, além de sempre carregar 2 ou 3 costuras a mais do que o manual sugere, evitando ficar na roubada.

Ana, perdida na parede.[6]

Ana, perdida na parede.

Infraestrutura

O camping La Buitrera, de Mario Moncada fica bem localizado, a 700m da entrada do cânyon. É bem simples, mas tem uma área de pasto para montagem de barracas, água, banheiros, banho quente dia sim, dia não. Luz e energia elétrica somente nas primeiras horas da noite. Há uma área aberta para cozinhar, mas leve seu fogareiro e gás ou terá que cozinhar usando lenha. Pagamos 8 pesos a diária.

Vimos barracas montadas nas margens do rio Chubut, mas esse camping selvagem não é seguro e há diversas placas de “proibido acampar”. Toda a área é reserva protegida, então é melhor evitar problemas e antes de montar a barraca, certificar-se se é permitido.

Sinal de celular, internet, wifi, alimentos e gasolina, são encontrados somente na cidade de Gualjaina, distante 40km em estrada de terra. Melhor programar-se levando tudo o que for precisar e preparar-se para ficar incomunicável.

As cidades mais próximas são Bariloche (400km) ou Esquel (80km). O ideal é alugar um carro (220 pesos a diária) e assim ficar independente. O acesso via ônibus é bem restrito e só acontece em poucos dias da semana.

 

 

A área de camping fica entre as árvores, perto do rio Chubut.[7]

A área de camping fica entre as árvores, perto do rio Chubut.

Gaúcho preparando o churrasco para a festa de 50 anos de dom Mario.[8]

Gaúcho preparando o churrasco para a festa de 50 anos de dom Mario.

Matéria publicada no Mountain Voices # 147

Endnotes:
  1. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/IMG_5440.jpg
  2. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/IMG_5445.jpg
  3. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/DSC_2207.jpg
  4. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/DSC_2211.jpg
  5. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/DSC_2115.jpg
  6. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/DSC_2328.jpg
  7. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/IMG_5552.jpg
  8. [Image]: https://eliseufrechou.com.br/wp-content/uploads/2016/02/DSC_2085.jpg

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